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Mensagens

É o elogio do norte. Deste Portugal virado para a Galiza.

«Afonso Henriques ter-se-á enganado...». Políticas à parte, falo-vos de lugares e pessoas com os quais me identifico. Sítios verdejantes e frescos (que muito se agradecem nestas ondas de calor), comida saborosa  regada a sorrisos, gente conversadeira a duas línguas, pontes e caminhos de pedra, ramadas que prometem, fontes e rios, aves e ovelhas, mulheres e homens de coragem, umas quantas que deixam história. E o mar. O que dizer de um mar verde e azul, praias lisas, dramáticas, de cheiros intensos.

ternura

voltar a andar insegura no passo como se fosse criança – mas eufórica pela novidade da probabilidade daquilo que o novo passo me traz

Surgindo para serem flores adoradas assim como as noites, as luas, o sol e todas as estrelas

Estou em modo de crer que a verdadeira magia está na terra. Terra escura, farta, generosa, abençoada! E nós… pés assentes na terra! Não um apenas…os dois pés em simultâneo Quatro pés se tiver de ser bem juntinhos a abrir uma pequena cova. E nós que sobrevivemos durante meses em líquido, juntemos-lhe água transparente, regeneradora e emocional Dizem que a lama faz bem à pele Chafurdemo-nos, imundos javardos! E já que temos a importância de um peixe, Toca a abrir buraco maior em forma de lago e deslizar nas águas salgadas do mar E, levantando voo, qual peixe voador, cruzemos os céus formando cruz Talvez nos passem multa de velocidade E seremos pássaros atestados de personalidade Que galgaram os céus em passada de avestruz E o que dizer destes botões que sobrevivem?… são fogo! Surgindo para serem flores adoradas assim como as noites, as luas, o sol e todas as estrelas e todos os doces amanheceres que terminam em pores de sol arrebatadores.

Aonde quer que vás.

Esta vida é viagem.  Não é chegada a lado nenhum nem a ninguém.  É aprender a apreciar a paisagem. E compreender quem contigo se vai cruzando. Aonde quer que vás. Vê. Sê.

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Era o dia ainda uma criança balbuciando frágil nos arbustos. Um rumor de ramos que agiganta os passos que nos guiam mesmo a custo. Foi então que a manhã ganhou em atitude desvendando-se em luz pelo meio-dia. Ganhou toda a praia teus gestos de espuma e alegria e, subitamente, ferveu a tarde em juventude. No final, rendeu-se o azul em cansaço e, de beiço caído, se adivinha já o sol-posto. Está o dia por um fio e treme a verdade os últimos raios tombando-nos leves e lassos. Não tarda nada ficará velho este dia trará a noite o tamanho e o gosto da eternidade.

E aqui me tens, Vida.

Têm sido desafiantes estes últimos meses que se me oferece a vida.  Uma mãe. Uma pessoa que tem de lidar com o facto de se achar na sua mais absoluta individualidade. Uma boa mãe nunca é individual, não sabe o que é um. Mãe que é mãe pensa por três ou quatro e nunca pensa em si primeiro. Um dia, repara que os seus amores cresceram e partiram. E cresceram tanto que ganharam terreno, vontade, horários próprios, caminhos que não desvendam. Pegaram na tesoura e trás!, obreiros implacáveis do corte radical do cordão. Afinal, havia egoísmo em todos estes anos e a mãe deixou de ser a figura principal das suas vidas. E este facto é dura constatação.   É então que passa a ser uma, outra vez. Uma só. Olha para si. Tem de pensar rápido. Não há vítimas, não há heróis. Há uma pessoa que já há tanto tempo que não olhava para si própria. Não há  grupo, já não é cozinheira ou enfermeira, não é a educadora ou taxista, já não precisa de se desdobrar. Tem todo o tempo do mundo. E está por si só. Por algu

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há um raio que não me fere antes me abre o peito a cada esgrima

pretendia encontrar um amor

Pretendia encontrar um amor. Um daqueles que o ajudasse a pagar as contas Um que o ajudasse a cuidar do gato Um que lhe preparasse o jantar Um que o acompanhasse no natal, na páscoa e no dia de todos os santos na procissão da senhora das dores nos feriados possíveis e até no carnaval Mas nunca no dia dos namorados. (pintura de Henri Matisse)

a glória dos perdedores

uma a uma… as pessoas vão dobrando as toalhas… uma a uma um a um… envergam as vestes engelhadas penteiam os cabelos de sal recolhem-se os chapéus de sol expulsam uma a uma… as areias dos braços um a um… vão esvaziando o areal como quem abandona um campo de batalha de costas viradas para o mar… e vão ficamos sempre um e outro… resistindo à espera que não acabe o último banho o último sangue no horizonte a glória dos perdedores…