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E aqui me tens, Vida.

Têm sido desafiantes estes últimos meses que se me oferece a vida. 

Uma mãe. Uma pessoa que tem de lidar com o facto de se achar na sua mais absoluta individualidade. Uma boa mãe nunca é individual, não sabe o que é um. Mãe que é mãe pensa por três ou quatro e nunca pensa em si primeiro. Um dia, repara que os seus amores cresceram e partiram. E cresceram tanto que ganharam terreno, vontade, horários próprios, caminhos que não desvendam. Pegaram na tesoura e trás!, obreiros implacáveis do corte radical do cordão. Afinal, havia egoísmo em todos estes anos e a mãe deixou de ser a figura principal das suas vidas. E este facto é dura constatação.  

É então que passa a ser uma, outra vez. Uma só. Olha para si. Tem de pensar rápido. Não há vítimas, não há heróis. Há uma pessoa que já há tanto tempo que não olhava para si própria. Não há  grupo, já não é cozinheira ou enfermeira, não é a educadora ou taxista, já não precisa de se desdobrar. Tem todo o tempo do mundo. E está por si só. Por alguns momentos tanta folga dá vontade de desatinar. Instala-se um vazio repentino. Um silêncio inquietante. Uma casa que fica grande demais. E não há volta a dar.

É então que vai crescendo uma nova força. Todos os dias um bocadinho. Vai crescendo em felicidade e maturidade. Uma onda de serenidade pelo prazer da sensação de bem cumprido. Contribuiu para fazer surgir bons seres humanos, gentis e educados. A mãe sorri e chora. Sorri e limpa as lágrimas. Sorri e sorri. Respira de alívio. Não há fingimentos. Não há raivas nem invejas. Não há dor nem frustração. Há sentimentos bons. Energia boa. Há uma força gigante. Aquilo que toda a gente diz ser o Amor incondicional. O único Amor. O verdadeiro. O orgulho de me ver crescer a cada oportunidade como Mulher.

Só me resta, agora, olhar para mim. E aqui me tens, Vida. Estou pronta para tudo o que ainda não planeei.




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