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Mensagens

vinte e nove ou trinta pássaros?

Estes pássaros são como eu bebem com os olhos a cor deste céu que é cor destas águas e voam

vai sem medo mas com cão

Vai sem medo mas com cão (não vá o diabo tecê-las…) leva a trela rente ao chão que por uma questão de precaução vale pelo sim e vale pelo não assim se cultiva a inação ficam com determinação as portas trancadas  finge-se não ver as janelas escancaradas anda o coração cansado… (foto de Tulin Eoturk)

Só isto!

Foi como alguém me disse. Há um ritual: levantar cedo, dar uma pequena volta, tomar um café na esplanada e ler um pouco. E ler é bom! Como alguém me disse e foi bom de ouvir. «Desse ritual faz parte ler um dos seus textos que são uma delícia.». Tendo em conta a pessoa que o disse, foi uma delícia ouvir isto. E, tendo em conta que continuo a ser uma otimista, acredito que faço bem a alguma gente que me lê e que a partilha genuína é sempre positiva. «Não pare de escrever!» – continuava, desabafando com um certo ar de pesar - (como se isso me fosse possível…). E logo pensei que esta coisa das redes sociais e blogues e outras coisas que tais têm o dom profundamente desconcertante de nos fazer crer na seguinte associação de ideias: não publicas - não fazes; não fazes - deixas de viver; portanto, deixas de existir. Possivelmente, estarás doente, quase às portas da morte. Talvez tenha acontecido um acidente ou estarás com depressão. O mais certo é imaginarem imediatamente que mudaste de país

não avances tão depressa

Eu vou com as estações todas! sem exceções mas ai! quando o Verão começa a pele reclama luz e sol portanto, em sinais de fogo, sinto-me atear e vou

nortada

 Um ventozinho que mata e valentes remadores.   (Assim cantarolam os outros e advertem).  Pois mata, mata!   (Mas se soubesse o que sei hoje…  ter-lhe-ia dado permissão para me despentear mais vezes). Porque este meu vento é vento do norte!  Não é «inho». É «ão». É furacão. É vento com pêlo na venta.  Não é arzinho que se me dá, nem é vento de feição.  Não tem cabeça nem pé de vento.  Não é ventania nem brisa suave e muito menos vendaval.  Não é andar contra o vento. É gostar de o sofrer! É vento do norte. É nortada! Não é ir de vento em popa. É vento que me leva por aí. É vento que conhece tão bem o meu lugar e me ata a cada lugar teu e gosta de o saber.

era um arado tão arado daqueles muito lentos

Era um arado tão arado daqueles muito lentos que sulcava a terra com paciência… E há quem diga que terra sulcada pacientemente é verso trabalhado porque tal como o boi puxa o arado e o arado sulca a terra assim vai o poeta traçando com cautela o seu verso E há quem diga que o trabalho da terra é árduo, é tarefa persistente  vai o boi mais o arado uma e outra vez insistentemente e vira em sentido contrário e de sulco em sulco vai construindo o seu sustento E como o regresso à terra é urgente! E como é precioso o recurso à poesia! Trabalhar o verso e o reverso destes dias de terra que são também cadernos de linhas Seja traço premeditado ou risco repentino de quem adverte que para cada verso há sempre o seu avesso mesmo que em terreno fértil                                         E eu conduzo o meu arado com esta minha BIC entre os meus dedos e vou sulcando cada linha de tinta deste meu caderninho de terra e em verso corrigindo e reescrevendo os rabiscos e os reversos destes sulcos suste

sopro de vida

encosta o teu nariz ao meu e respira sente aqui tão perto a minha boca quase colada à tua e passam num segundo sem que nada se diga todas as sílabas possíveis que compõem a Palavra que é lufada de ar, sopro de vida. ( obra de Julião Sarmento)

verso primeiro

Não há verso como o primeiro – o da infância. Um dia de verão pelas sete da manhã e a promessa de chegar à praia o mais brevemente possível. Um carro que anda devagar demais e uma estrada tão longa que deixa qualquer um na loucura. E vai veloz! Mas, mesmo assim, é tal a ansiedade e a felicidade de chegar que parece nunca mais se efetiva aquele encontro mágico… Está o balde preparado, o fato de banho por baixo da roupa a pedir que se largue a camisola, está o carro já a cheirar a maresia. E salta a criança no banco! Abre-se a janela do carro à chegada e aspira-se todo aquele ar que é vida para dentro da gente! E é este o verso primeiro – o de sermos capazes de efetivar encontros mágicos! (foto de Sergio Larraín)

Efeito Wah Wah

 é quase sempre no mesmo tom entusiasmado que te perguntam das vibrantes conquistas as primeiras: com que idade perdeste o primeiro dente com que idade aprendeste a andar de bicicleta com que idade leste as primeiras letras com que idade inauguraste as inseguras braçadas com que idade fumaste o primeiro cigarro com que idade ensaiaste o teu primeiro beijo com que idade largaste a casa dos pais com que idade abriste a porta da tua casa com que idade conseguiste o teu primeiro sustento com que idade com que idade com que ansiedade e é na base destas perguntas constantes que vais acelerando tentando provar a todos que és capaz de mais e mais até que, um dia, te apercebes e, agora em tom espantado, perguntas porque deixam de perguntar e deixam de se interessar  pelas tuas novas conquistas as verdadeiras: com que idade já nem te perguntam a idade com que idade te olham surpreendidos para o que fazes acontecer com que idade descobres com entusiasmo que continuas a aprender, a perder, a ganha