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o meu lugar preferido

Tu és apenas uma uma das maravilhas possíveis que se mantém perto de mim doce e dura! És tu, Poesia! És impulso que me faz voar! És força que me faz acreditar e levar a cabo as mais interessantes operações! És energia que me faz sorrir e construir a esperança! És motivação e enleio! És a arte de morder e gostar de mim e de ti! E que nunca nenhum pedaço de realidade absurda me faça desistir de ti! Mónica Costa (foto de Purkayastha)

primavera encarcerada

Não sei se por afronta ou infinita liberdade Não sei se foi pela minha teimosia privada ou a ânsia do corte profundo com a quietude comezinha que reparei, hoje, na minha mãe ciente de que conseguiria abrir uma fresta naquele muro mas há pessoas que não têm remédio... vão deixando andar... E lá ficou ela obsessivamente enfiada naquela cozinha a limpar e limpar o que não se limpa firme por entre paredes que se dissolvem dia após dia As mães ensinam-nos sempre tudo nem que seja por afronta ... e quem vier depois que pague a conta! Mónica Costa (pintura de Arthur Hacker)

A Vida é bela!

Eu sei que podia descrever a Vida assim: um dia que se esgota num ápice e nós correndo para a sombra fechamos as portas de casa pousamos as cabeças na crina deste cavalo e seguimos agarrados aos flancos crivando as esporas para aguentar a noite à espera do dia que se segue e que se esgota em batalha... Mas não posso expor isto desta maneira assim! Simplesmente porque as descrições, tal como a Vida, alimentam-se de Adjetivos! E apercebi-me, agora, que não há aqui nem um!... Mónica Costa

Nem mesmo esta árvore que esperou por mim durante um ano inteiro!

Tenho quase a certeza que só esta manhã é que me veio à lembrança que estamos no Natal! Época de comunhão! E andava eu tão absorta que nunca mais me lembrei da árvore natalícia. Lá ficou encaixotada desde o passado dia sete de janeiro e, até hoje, ainda não tinha dado sinais de vida. E agora que olho esta árvore, ainda por decorar, é que parei…De vez em quando, temos de parar, não é? Pois, foi o que me aconteceu, estagnei num pensamento…  É Natal! É Natal! E por falar em comunhão, estamos naquela mágica e incontornável época do ano! Altura propícia para balanços e inventários, o registo do Deve e do Haver. E por falar em comunhão… Quem fez o quê? Quem merece? Quem pode estar presente? Quem pode e não quer? Quem não pode e quer? Para onde devo ir? Onde fico melhor sem chatear muito? Com quem quero estar? O que comer? Quando comprar? O que comprar? Será que tenho tempo?  E lá andamos nós esgotados nesta lista interminável de questões efémeras, desejando um dezembro com 62 dias ou, ent

arbusto

Foi no fim do outono que começou este inferno e de lá para cá tem andado agitado aquele arbusto danado que vergado se expõe a este diabólico inverno vê-se despido e açoitado leva todos os dias porrada e, mesmo fustigado, debate-se firme à espera da primavera… Mónica Costa (arte de Cristina Troufa)

Que remédio!

Pequenos toques como o primeiro esfregar o olho direito ainda de rosto enfiado no travesseiro atirando o esquerdo para o céu para ver o tempo que faz arrebitar o nariz que nem cão farejando o nevoeiro ou simplesmente morder o lábio matreiro que, sedento e húmido, deseja mais um dia por inteiro abrir os braços, insinuando que se atirará por ali fora trincar a tosta, beber o leite devagar, assobiando que nem canário! E salta o chinelo, foge o pijama e expõe o corpo ao manifesto Calça a bota, veste o capote, leva a saca e o farnel com a salada Vai direita e combinada na cisma de que será uma boa jornada E assim se afasta da rotina que cansa e se envolve no dia que a satisfaz E vai leve e sempre com sorte por considerar este dia perfeito! Faz chuva? Bem bom! Faz sol? Ainda melhor! Minudências! É este o único remédio! Viver em regozijo por esta generosidade ostensiva de viver todos os dias estes toques como se fossem os primeiros. Mónica Costa

Agora!

É o agora não é o ontem nem o amanhã é este instantinho pequenino em que me deito sob esta manta quentinha e onde a neve se transforma em lençol É um calor que vem de dentro para fora e de fora para dentro de mim e assim enrolada nesta manta de agora nem consigo ficar ali a pensar no amanhã Fico exatamente aqui num gozo puro e simples de quem tem as unhas cravadas neste agora e não quer por nada deste mundo deixá-lo ir embora. Mónica Costa

E o Universo repôs a ordem e estalou o verniz!

As grandes cidades têm a mágica capacidade de nos deixar ludibriados com a movimentação, a energia das muitas coisas a acontecer, do apelo ao consumo… tudo parece bonito e bom e em promoção… um mar de oportunidades!!!  As grandes cidades têm também a capacidade de nos deixar anestesiados perante a miséria e a pobreza, de nos ensinar a hipocrisia social de nos exibirmos felizes e consumidos, passando impávidos por aqueles a quem a vida chicoteou.  Nas grandes cidades convivem lado a lado dois tipos de animais: os que arreganham a dentadura e os que oferecem, submissos, o cachaço.  E feliz daquele que tem tempo e serenidade para pensar na desgraça dos outros!  E estes meus desabafos vêm na sequência do trágico, mas feliz, acontecimento do bebé que constituiu notícia esta semana. Chocou, alertou, lembrou, mostrou, desabafou! Há tendas e tendas! Há as tendas esplendorosas e mágicas do campismo que remetem para férias, aventura e passeio. (Eu própria guardo memórias magníficas da

Chuva que arrepia!

Eu que sempre me alimentei de luz e do voo disparatado dos pássaros em céu azul vi hoje o amanhecer em tons de cinza e fiquei curiosa e estupidamente feliz!...  Acho que só hoje tomei consciência do fim da primavera ou do verão ou das coisas perfeitas E é bom termos consciência da beleza das coisas imperfeitas! E, em vez de ficar remoendo ou protestando, saboreei o quase início do inverno e fiquei estupidamente feliz!... Foi assim que mandei expedir, imediatamente, mandado de prisão ao sol. E tal ordem partiu da sentença lançada no processo por mim e em juízo perfeito! E que ninguém ponha em causa as suas características! Porque essas vêm seriamente expressas mesmo na última alínea do artigo mais completo do Código de processamentos dos dias luminosos em dias de chuva! Dever-se-á, portanto, fazer cumprir escrupulosamente a diligência que agora se determina. Lembremo-nos que, tal como um dia de sol, também um dia de chuva pode ser maravilhoso! Mónica Costa