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Quando daqui por um ano te tiveres esquecido desta tua clausura: Lembra-te!

Quando daqui por um ano te tiveres esquecido desta tua clausura: Lembra-te! É bom Acordar cedo seja em dia primaveril seja em dias de tempestade É conforto comprovado o Banho de cada início de dia e uma roupa lavada É um prazer indescritível o sabor do Café da manhã mais o cheiro das torradas E é luxo inquestionável esse sair para a Rua para ganhar o Pão nosso de cada dia É claro que é também impensável passar por um dia sem problemas mas convém seres grato pelos momentos Bons e pessoas Boas que te ajudam a superá-los E quando estiveres cansado, maçado ou desiludido, é bom que te recordes que há Amanhã É mais um dia, uma nova Oportunidade para fazeres diferente e melhor, em Paz Lembra-te! É bom estar entre a Gente que nos quer bem, é bom Abraçar e dizer Obrigado! É bom estar sozinho quando assim tem de ser É fundamental saber intercalar o trabalho e o passeio, o Dever e o Prazer É tão bom Conversar numa esplanada e olhar o Mar É um privilégio trabalhares, estudares, luta

E chega de realidade!

Eu tenho casa, carro e pago as minhas contas Tenho o meu trabalho honesto que suporta tudo isto E chega de realidade! Esta é a dose certa que consigo suportar… Tudo o resto é o que me interessa! E não é a realidade que me interessa! (é apenas o que preciso, mas não do eu gosto!) Do que eu gosto e o que me faz respirar, eu vos digo  (… e chamem-me louca que eu também gosto!) Vivo para apreciar as diferentes formas das nuvens no céu! Para sentir a areia molhada nos meus pés! Para sentir o calor da cama nas manhãs de sábado! (e os sábados são abençoadamente pacíficos) Vivo para caminhar sentindo o vento nos cabelos ou os raios quentes do sol no rosto! Vivo para abraçar e extrair luz dos olhos de quem quer o Bem! Vivo para saborear um livro (escritos de quem sente a vida assim)! Vivo para deixar a música entrar em mim! (uma das maravilhas deste planeta!) Vivo para rir e para chorar, sentir, enfim! Vivo para falar e saber ouvir! Dizer desculpa se assim tiver de ser… E

Silogismos

Cheguei às doze, nascia a tarde e nada de nada as árvores pareciam deitadas, os bancos esparramados Esperei pelas treze e uma faísca tímida surgia na vidraça Saltitavam as folhas ao sabor do vento… tudo parado… E nada de nada… Eram catorze quando disparou um raio e tu chegavas E já às quinze uma luz intensa me inundava!! Portanto, daqui para a frente, quando nascer a tarde e as árvores parecerem deitadas e os bancos esparramados E nada de nada… Já sei que às quinze… Mónica Costa (qualquer semelhança com a realidade é pura ficção!) (fotografia de Renato Roque)

Lua Cheia

Quando era nova e a minha avó velha dormia, por vezes, em casa dela. O quarto era pequeno e a cama alta eram só portadas fechadas, as cortinas nem vê-las! E com o escuro, mal a porta do quarto fechava, um cheiro a camisa de dormir que se misturava com o sabor a leite das palavras e a voz da minha avó qual miado de gato me ensinava assim pela calada da noite: «Anjo da minha guarda Anjo deste dia guardai-me de noite e de dia andai sempre na minha companhia» Não me deu mais do que isto a minha avó velha… Pensando eu que recebera pouco dela!!... Mas, hoje, em noite de lua cheia, creio ter tudo o que me convém! Mónica Costa

o meu lugar preferido

Tu és apenas uma uma das maravilhas possíveis que se mantém perto de mim doce e dura! És tu, Poesia! És impulso que me faz voar! És força que me faz acreditar e levar a cabo as mais interessantes operações! És energia que me faz sorrir e construir a esperança! És motivação e enleio! És a arte de morder e gostar de mim e de ti! E que nunca nenhum pedaço de realidade absurda me faça desistir de ti! Mónica Costa (foto de Purkayastha)

primavera encarcerada

Não sei se por afronta ou infinita liberdade Não sei se foi pela minha teimosia privada ou a ânsia do corte profundo com a quietude comezinha que reparei, hoje, na minha mãe ciente de que conseguiria abrir uma fresta naquele muro mas há pessoas que não têm remédio... vão deixando andar... E lá ficou ela obsessivamente enfiada naquela cozinha a limpar e limpar o que não se limpa firme por entre paredes que se dissolvem dia após dia As mães ensinam-nos sempre tudo nem que seja por afronta ... e quem vier depois que pague a conta! Mónica Costa (pintura de Arthur Hacker)

A Vida é bela!

Eu sei que podia descrever a Vida assim: um dia que se esgota num ápice e nós correndo para a sombra fechamos as portas de casa pousamos as cabeças na crina deste cavalo e seguimos agarrados aos flancos crivando as esporas para aguentar a noite à espera do dia que se segue e que se esgota em batalha... Mas não posso expor isto desta maneira assim! Simplesmente porque as descrições, tal como a Vida, alimentam-se de Adjetivos! E apercebi-me, agora, que não há aqui nem um!... Mónica Costa

Nem mesmo esta árvore que esperou por mim durante um ano inteiro!

Tenho quase a certeza que só esta manhã é que me veio à lembrança que estamos no Natal! Época de comunhão! E andava eu tão absorta que nunca mais me lembrei da árvore natalícia. Lá ficou encaixotada desde o passado dia sete de janeiro e, até hoje, ainda não tinha dado sinais de vida. E agora que olho esta árvore, ainda por decorar, é que parei…De vez em quando, temos de parar, não é? Pois, foi o que me aconteceu, estagnei num pensamento…  É Natal! É Natal! E por falar em comunhão, estamos naquela mágica e incontornável época do ano! Altura propícia para balanços e inventários, o registo do Deve e do Haver. E por falar em comunhão… Quem fez o quê? Quem merece? Quem pode estar presente? Quem pode e não quer? Quem não pode e quer? Para onde devo ir? Onde fico melhor sem chatear muito? Com quem quero estar? O que comer? Quando comprar? O que comprar? Será que tenho tempo?  E lá andamos nós esgotados nesta lista interminável de questões efémeras, desejando um dezembro com 62 dias ou, ent

arbusto

Foi no fim do outono que começou este inferno e de lá para cá tem andado agitado aquele arbusto danado que vergado se expõe a este diabólico inverno vê-se despido e açoitado leva todos os dias porrada e, mesmo fustigado, debate-se firme à espera da primavera… Mónica Costa (arte de Cristina Troufa)