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mas é – um poema de amor. há de ser sempre um poema de amor

Ainda bem

que não morri de todas as vezes que

quis morrer – que não saltei da ponte,

nem enchi os pulsos de sangue nem

me deitei à linha, lá longe. Ainda bem


que não atei a corda à viga do tecto, nem

comprei na farmácia, com receita fingida,

uma dose de sono eterno.Ainda bem


que tive medo: das facas, das alturas, mas

sobretudo de não morrer completamente

e ficar para aí – ainda mais perdida do que

antes – a olhar sem ver.Ainda bem


que o tecto foi sempre demasiado alto 

e eu ridiculamente pequena para a morte.


Se tivesse morrido de uma dessas vezes,

não ouviria agora a tua voz a chamar-me,

enquanto escrevo este poema, que pode

não parecer – mas é – um poema de amor.


Maria do Rosário Pedreira




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