Avançar para o conteúdo principal

É um início perene, nunca uma chegada seja ao que for.

Somos um todo, não há volta a dar. Por muito que digam que a humanidade está em crise e que tendemos para o isolamento, há uma ainda força gigantesca e misteriosa que nos compele uns para os outros. É essa força que se sente quando se está no meio da multidão. Quando o povo se junta em torno da mesma música, da mesma palavra, do mesmo protesto. Uma onda de corações que se unem. E como arrepia esse esforço comum! Uma espécie de reunião de nomes no mesmo sítio à mesma hora. Um uníssono respirar, a morte certa de todos nós aliviada por um momento de paz ou conforto ou consciência de que afinal somos todos feitos do mesmo. É na linguagem, seja ela feita de palavras, sons, gestos, que a experiência se torna concreta e percebemos que há um mesmo viver que nos une. Os mesmos problemas e alegrias, ansiedades e desejos. Uma comunicação consequente. De repente, naquele instante, as pessoas chamadas ao mesmo lugar vivem a mesma linguagem, não a intelectualizada, mas a linguagem na sua função comunicativa e social mais pura e simples.  

O Herberto Helder deixou escrito que «o prestígio da poesia é menos ela não acabar nunca do que propriamente começar. É um início perene, nunca uma chegada seja ao que for.» Foi isto que senti acontecer ontem. Uma biblioteca, uma fila interminável de gente que acorreu ao mesmo lugar, sentado ou de pé, para ouvir, sentir e ler poesia. A palavra, a música, o olhar. A magia da vida! Atreve-te! A poesia ainda está na rua e não quer chegar a lado nenhum a não ser ao interior de nós mesmos. 





Comentários