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Magnífico... a paisagem!

A paisagem aqui está. Sempre aqui esteve. É o que é: Magnífica! Inteira! Sem efeitos especiais! E nós cá andamos há 3.500 milhões de anos! Ainda bem que os primeiros de nós levantaram as patas dianteiras e atiraram o focinho para o além, enxergando novos horizontes! E é nestes propósitos de curiosidade que vamos andando, retirando das paisagens o que nos convém. 
O homem do campo, por exemplo, olha a sua horta, admirando a robustez das nabiças, a pujança do fruto que cresce nas suas árvores, a beleza dos torneados da couve portuguesa que brota imponente da terra e pensa as suas sementes que serão pão partilhado dali a uns dias. O engenheiro, arquiteto e construtor detêm o olhar nas formas e nas curvas, ou seja, na geometria dos elementos puros da natureza que se erguem sumptuosos à sua frente e pensam as linhas que se materializarão em pontes e monumentos daí a uns tempos. O pintor, por sua vez, olha as águas de um rio abrilhantadas pela luz radiosa do sol ou contempla o perfil dos montes longínquos que se esbatem em nevoeiro misterioso e pensa as cores que serão tela dali a nada. E há, também, o escritor que fixa os rostos das gentes que espelham as paisagens, os gestos dos que se sentam nos bancos do jardim quando as sombras sobem as paredes ou o ar distraído dos que ainda nem perceberam que há paisagem para apreciar e pensa as suas palavras que serão alimento da alma dali a uns dias. Depois, há o homem triste que vê refletida a ausência  e a dor na quietude das folhas que estão moles em chão de outono e pensa-as como lágrimas. Há o homem feliz que se regala e suspira a cada nascer do sol e absorve o calor dos raios que serão a vontade de todos os dias. E uns e outros fazem parte da mesma paisagem, cruzando olhares. E é neste emaranhado que os olhos meus se confundem com os olhos teus! Um estado temporariamente de graça que alcança a paisagem por inteiro e em toda a sua magnificiência! Cheia de efeitos especiais! Choram as folhas gotas de orvalho que escorregam em câmara lenta, sorriem as nuvens, solta-se a voz indelével de cada manhã e cobre-se, com véu de seda, cada entardecer onde repousam, acrescentando sonho ao horizonte. E estes pensam a sua flor que desabrochará em beijo dali a dias!
E a paisagem lá está. Sempre ali esteve e continuará! Magnífica! 

Mónica Costa



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