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A fúria de um monólogo

São os jovens. São os filhos matulões quase nos trinta que vivem em casa dos pais à espera de melhor sorte. Os Quinta do Bill cantavam, há cerca de 25 anos, em jeito de hino entusiástico que fazia saltar multidões, as palavras de Carlos Moisés - «Os filhos da nação». Dirigiam-se aos jovens atentos! E os jovens atentos gostavam de Música! Nessa altura, eu era uma dessas jovens! Atenta? Nem sempre… Tal como eu, muitos jovens, os nascidos nos anos setenta, confiavam apenas num sistema que lhes dava acesso a um mundo de trabalho, com esperança de se transformar em trabalho efetivo e estável e «no canudo vivia a esperança». Estudavam para ter opinião sobre os assuntos e para ter uma vida melhor. Era altura, dizem os registos históricos, de contestação estudantil intensa. Quem teve a coragem de estudar e organizar as suas vidas, conseguiu alguma estabilidade.
Hoje, os jovens de 24 anos, nascidos em 1994, vivem a angústia de quem ainda não se habituou à ideia de viver um sistema que apenas tem para lhes oferecer incertezas, trabalhos precários, altos índices de insatisfação e o canudo nem sempre é esperança. E esta incerteza retira-lhes energia, são seres pouco críticos e acomodados, por vezes, à mera condição de filhos. E enquanto puderem estar sob a asa dos pais, ao menos não há renda para pagar. Os pais destes filhos são os cinquentões atuais que se foram esforçando para ter um futuro estável e querem oferecer aos seus a mesma segurança que lhes incutiram. Não vão, com certeza, conseguir!!!
Há uns largos anos, cantava-se a coragem e a luta «que tu tens de conquistar». Hoje, silaba-se, cantando, o dia de hoje, sem pensar no de amanhã e sem saber se a cruz é a salvação. Vai-se andando e vendo! Quem é bom, muito bom e tem ambição suficiente, aventura-se. Vai para além da sua terra, sabe que o mundo não é a sua aldeia, é estrada longa. Fica-se onde há trabalho. Faz-se de tudo um pouco e vai-se aprendendo vida fora a fúria de um monólogo que, por vezes, não insistem em partilhar. Os que vão sobrevivendo, vão sendo arrojados e criativos. E continuam a gostar de Música!
Daqui a 25 anos, estaremos em 2043!  Nessa altura, possivelmente, teremos uma geração de jovens que assumem de vez a sua natureza biónica e convivem harmoniosamente com as máquinas. De certeza que aparecerão novos empregos que, hoje, nem se imaginam sequer. O lugar físico onde se trabalha será completamente substituído por lugares virtuais. Os algoritmos compreenderão tudo o que se passa connosco, muito melhor do que nós próprios. Serão eles a ditar a nossa sorte! Será que eles, nessa altura, gostarão de Música?

Mónica Costa

(Pink Floyd, Mother)





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