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Mensagens

E o Universo repôs a ordem e estalou o verniz!

As grandes cidades têm a mágica capacidade de nos deixar ludibriados com a movimentação, a energia das muitas coisas a acontecer, do apelo ao consumo… tudo parece bonito e bom e em promoção… um mar de oportunidades!!!  As grandes cidades têm também a capacidade de nos deixar anestesiados perante a miséria e a pobreza, de nos ensinar a hipocrisia social de nos exibirmos felizes e consumidos, passando impávidos por aqueles a quem a vida chicoteou.  Nas grandes cidades convivem lado a lado dois tipos de animais: os que arreganham a dentadura e os que oferecem, submissos, o cachaço.  E feliz daquele que tem tempo e serenidade para pensar na desgraça dos outros!  E estes meus desabafos vêm na sequência do trágico, mas feliz, acontecimento do bebé que constituiu notícia esta semana. Chocou, alertou, lembrou, mostrou, desabafou! Há tendas e tendas! Há as tendas esplendorosas e mágicas do campismo que remetem para férias, aventura e passeio. (Eu própria guardo memórias magníficas da

Chuva que arrepia!

Eu que sempre me alimentei de luz e do voo disparatado dos pássaros em céu azul vi hoje o amanhecer em tons de cinza e fiquei curiosa e estupidamente feliz!...  Acho que só hoje tomei consciência do fim da primavera ou do verão ou das coisas perfeitas E é bom termos consciência da beleza das coisas imperfeitas! E, em vez de ficar remoendo ou protestando, saboreei o quase início do inverno e fiquei estupidamente feliz!... Foi assim que mandei expedir, imediatamente, mandado de prisão ao sol. E tal ordem partiu da sentença lançada no processo por mim e em juízo perfeito! E que ninguém ponha em causa as suas características! Porque essas vêm seriamente expressas mesmo na última alínea do artigo mais completo do Código de processamentos dos dias luminosos em dias de chuva! Dever-se-á, portanto, fazer cumprir escrupulosamente a diligência que agora se determina. Lembremo-nos que, tal como um dia de sol, também um dia de chuva pode ser maravilhoso! Mónica Costa

Sim, meu filho, é esta esperança de te deixar num mundo tão inseguro!

Sim, meu filho, é esta esperança de te deixar num mundo tão inseguro! É esta esperança que me alimenta: de que faças o melhor que puderes ao longo da tua vida de que te mantenhas firme e não curvado quando tudo cair em teus ombros que te mantenhas fiel a ti próprio mesmo quando todos duvidarem de ti (sem esqueceres que as suas dúvidas devem ser tidas em consideração) de que te lembres da nobreza e da maravilha do saber esperar e que te congratules por não alinhares em mentiras. É esta a esperança que o meu sorriso e abraço te comunicam todos os dias: a de teres a certeza de que a melhor maneira de viver é amando e mesmo quando te sentes desprezado, não compensa acumular revolta a de teres a certeza que não és bom demais nem superior aos outros mas também não és menos do que eles, somos todos iguais e a de teres a certeza que sonhar…oh! Sonhar, sonhar é a salvação deste mundo (não deixes que a realidade te corroa!) Seres capaz de lidar com o triunfo e com o desastre como

em nome da cultura...

Segundo reza a história, em 1865, foi inaugurado o Palácio de Cristal, na altura um edifício belíssimo que foi palco de cultura durante 86 anos. Em 1951, foi demolido, passando a ser o Pavilhão de Desportos. Nessa altura, segundo os registos, o belíssimo órgão de tubos que existia no palácio foi destruído à martelada. Houve reação popular que conseguiu pelo menos manter a designação de Palácio de Cristal. Ainda hoje, aquele local (lindo!) é associado ao nome magnífico de Palácio de Cristal. A abóboda que se impõe logo à entrada recebeu a designação, entretanto, de Pavilhão Rosa Mota. Sendo que aquele espaço estava agora associado à designação de Pavilhão de Desportos e, mantendo, e muito bem, o conceito original de espaço cultural, decidiu-se homenagear Rosa Mota, como símbolo de cultura do nosso país! Mulher de percurso pessoal, social e profissional íntegro, é o orgulho dos portuenses e dos portugueses! Tudo uma questão de essência, de valores e de identidade cultural. Mas… é assi

o muito que ali está

É estranho como acordamos às vezes! Assim aconteceu um dia… Tinha eu cinco anos e, numa certa manhã, acordei sem qualquer reação nas pernas. Choque! Pânico! Gritei pela minha mãe! A mãe não acreditava… pensava que eu estava a fazer fita! Ao fim de alguns segundos, percebeu que era verdade! Não estava a fingir… eu não conseguia andar! Surgiu um telefonema atrapalhado! A mãe discava num daqueles telefones pretos enormes, que só quem é dos anos 70 sabe do que se trata! Do outro lado da linha, a voz do pai que vem a correr! Chega o pai e mais a mãe, ambos aflitos! Levam- -me para o hospital! É grave! – dizem-lhes… E agora? Lá estou eu numa cama de hospital! Hospital de S. João, no Porto! Um quarto branco igual a todos os outros e muita gente à minha volta! Lembro-me de tudo! Aos poucos fui ficando imóvel, completamente paralítica! Foi um mês de tortura. Para uma criança vivaça como eu, foi de uma profunda tristeza! Ficou a bicicleta para trás, os caminhos enlameados de brincadeira, as

há um cartaz XXL na estrada

Há um cartaz em tamanho XXL na estrada que anuncia: BOM TEMPO É UMA ATITUDE! Corre um lamaçal chove a potes caem relâmpagos apagam-se as luzes noite de breu… razão para acreditar na contaminação potencialmente violenta da publicidade! Mónica Costa (foto de Márcia Oliveira)

e cai a noite e eu com ela

Desse lado frio e quotidiano fico evitando o calor das vidas das gentes recolhidas em suas casas porque eu gosto das cidades abertas, desertas e pesadas com as suas ruas de silêncio de um silêncio que cresce à medida que a tarde lentamente desaparece eu gosto quando todos se vão e eu fico deambulando contando em voz alta os meus passos no chão ouvindo o morno bafo das pedras das pedras da calçada cansada da gente que andou por ali desvairada e cai a noite e eu com ela e à medida que a voz quente da noite me liberta do peso da razão lembro-me do meu estado de alma de luz e cheia que prefere a solidão! Mónica Costa

e como era a Vontade...

Nasce do âmago evoluindo por entre ácidos e ali se regozija em líquidos pedaços e pedaços minúsculos boiando acumulados durante anos e anos azia, arrepio, friozinho no estômago e vai crescendo! trilhando o caminho inverso de baixo para cima vem disparada e sobe desenfreada pelo esófago empurram-na os movimentos peristálticos e ganha forma maior! pedaços que crescem e se vão constituindo em corpo cada vez mais forte garganta e língua à mistura e ali por entre dentes pedaços que se desmastigam em boca aberta boca aberta de espanto! lança-se o pedação borda fora solta-se em ponto de exclamação suculento … pronta a ser mastigada a qualquer momento Mónica Costa

sem palavras

Eu que nunca me vi em vestido vermelho… não pelo vestido nem pela cor, mas por mim… é que entre o vestido e as minhas medidas sempre se gerou… um desentendimento…! Coisas de barriga e ancas largas… Nunca o dito vestido assumiu tais ambições… Vestido vermelho que se preze só entra em cena quando deixa a boca aberta dos olhos que o vêem e alcança de tal maneira o sangue que a boca de tão aberta, fica sem palavras! Mónica Costa (foto de Elizabeth Gadd)