Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

E por cada hipótese levantada, há uma esperança!

Se retrocedermos no tempo e nos fixarmos naqueles dias em que existíamos enquanto gente com apenas alguns centímetros, facilmente nos lembramos que, com essa altura, não pensávamos em nada de transcendente. Nada esperávamos porque tudo tínhamos de essencial. Vivíamos muito próximos do chão, mesmo pés no chão em contacto direto com a terra, absorvendo a energia mãe que era a prova das coisas que não víamos, mas sentíamos. Os dias não eram compridos nem curtos, eram dias, simplesmente. Os dias não eram bons nem maus, eram só dias à custa de brincadeiras. Nada de transcendental. À medida que os centímetros nos foram acrescentando tamanho, os dias começam a ser contados e sentidos como compridos ou curtos. Na maioria dos casos, tornam-se curtos, demasiadamente curtos para tudo o que se quer fazer do que se vem descobrindo. Deve ser por isso que a noite começa a ganhar, nesta altura de narrativa, um fascínio peculiar porque acrescenta minutos ao dia, esperando-os compridos. E quem fala e

Há dias assim... sei lá

Há dias assim - assim do avesso em que se deve envergar um caminhar novo e desajeitado sei lá…trocando o número dos sapatos, por exemplo ou exibir um fato diferente, escandalosamente rasgado só porque se cismou revelar os omoplatas Há dias assim - assim fantásticos em que não se deve chegar a lado nenhum a tempo e ficarmos parados brincando em tapete rolante a marcar passo embevecidos pelo lado de dentro Há dias assim – assim aéreos em que sei lá… se deve respirar livremente só porque sim, livre de indícios e de marcas correndo a sorte de nos encontrarmos de contentes Há dias assim sim em que aprendemos que renasce algo em cada pausa! Mónica Costa (foto de Miguel Faifa)

É tudo uma questão de sobrevivência partilhada

Todos nós fomos jogados para um mundo sem o conhecermos e sem sabermos exatamente para o que vínhamos. Até há quem sinta, inclusivamente, vontade de pedir contas em tribunal aos pais que tomaram essa decisão fatídica sem pedirem permissão ao próprio. Mas a verdade seja dita: se fossemos informados do conhecimento deste mundo e para o que vínhamos, ninguém, com certeza, arriscaria a aceitar tal desafio.  É por isto que nós sentimos necessidade de proteção, pois nascemos tão sem aviso, completamente indefesos que nos agarramos imediatamente a quem nos possa deitar a mão. E é nesse preciso momento em que ainda mal abrimos os olhos, que começamos, supostamente, a amar e a confundir o amor com o interesse. Alguém aparece para nos deitar a mão e, por arrasto, vem a felicidade, o bem-estar e o conforto. E isso gera um sentimento de dependência feroz. É o reflexo de Pavlov que se instala: tu chegas, eu começo a ficar confortável! E o nosso cérebro pede cada vez maior compensação. Da mesma f

Socorro!

suspeito que é só dar um nome ainda que duvidoso ou apagado às coisas que tão mal nomeamos e nunca entendemos por falta de coragem ou exaustão um qualquer nome que nos sossegue e diga «É assim e mais nada, está catalogado!» um qualquer que nomeie a maleita e a cure de rompante e, se não sair palavra, que saia ao menos uma silaba tímida mas pungente é que se não dou nome a isto, já nem sei o que sou ou faço… lavar, secar, arranjar, dar comida ao cão emprestar as forças ao fatídico sabão atirar com a panela ao chão em dias não sair pela janela para apanhar a roupa ainda molhada estar sempre de plantão sem ter tempo para nada… Socorro! que alguém me traga a leveza de levar para casa no saco das compras de todos os dias um único nome que seja a solução Mónica Costa (foto de Ben Hopper)

Querido coração

Querido coração: Aqui estou eu entalada em buraco fundo, enxotada deste mundo E hoje, tal como ontem, dormi esmagada pelo sobressalto em que me afundo. Em sonhos, só me vejo empurrada de um alto e desfeita em trambolhão Fecho os olhos e vislumbro vultos em confusão a estilhaçar-me o corpo com arpão. De dia, em correria desmedida e calada na corrida pelo medo de protestar perseguem-me figuras imponentes aos pontapés, fazendo-me rebolar. Sinto uma mão gigante entornando ameaças, sete pedras em vez de versos Ando de olhos nos pés, adotei a tristeza como modo de ser. E aqui estou eu, a debater-me em vão, ordenada a uma resignação calada Atrás de portas que abrindo assustam, fechadas são cicatrizes envergonhadas. Esta é a minha sina, é solidão desmedida, não há lei que me acuda O melhor é resistir, não criar ondas nem pensar sequer em ajuda… Ninguém quer saber, o melhor é aguentar devagar... por amor…  (ah! louco coração!) Mónica Costa

Menina terrível!

Terrível! És menina terrível! Foi cair de bruços mesmo rente ao chão enlameada até aos ossos e ficas com essa cara de quem está prestes a bambolear as pernas para o ar fazes-me lembrar os cães quando sabem que fizeram asneira e continuam abanando com a cauda… Eu sei por que ficas de nariz encostado à terra é porque sabes que és capaz de te virar de costas num instantinho e, já que ali aterraste (nem sei se de propósito…), aproveitas para admirar o céu estrelado… Continua, menina terrível! Continua! Mónica Costa (Desenho de Alina Dorokhovich)

Caiu!

Hoje deixo cair aqui uma palavra: Flor.

Uma Maria Pires mais propriamente

E assim se optou por um determinado caminho. Escolhas que afastaram pessoas e levaram-nos a outras. Escolhas que nos fizeram perder algumas oportunidades, mas ganhar outras. Vou falar-vos de um caminho que não estava nos meus planos – Izeda. Terra pequena, pacata demais! E lá fui encontrar a Conceição. Ganhei uma oportunidade. Sim, há uma Conceição na minha vida. Uma Maria Pires mais propriamente. Minha amiga! Mulher decidida! Singular ligação! Uma riqueza! Age com retidão e franqueza! Em vez de ficar numa secura atroz, como de resto era política generalizada do local onde nos encontrámos, abria a bocarra e desatava a espingardar verdades.  Incomodava porque trabalhava com a energia típica dos loucos e sonhadores. E este último pormenor fazia, para mim, toda a diferença. E abraça como ninguém! Daqueles abraços de braços abertos de quem está habituada a abrir as portas de sua casa e convidar à entrada sem hesitações. Acontecia quase sempre aparecer, logo pela manhã, com uma energia e

crer, ver, escrever

Um pequeno, mas eficaz instrumento (rudimentar, diga-se de passagem) chamado Lápis. Diz a História que o lápis já se impôs de forma implacável – e era azul. E um outro elemento se lhe junta, também eficaz e algo rudimentar – o caderninho! O meu caderninho que é a minha companhia rudimentar para todo o lado! Há quem defenda os formatos digitais, mas eu sou apologista da escrita à mão, do sarrabisco, dos esqueletos de ideias em papel que vão tomando forma à medida do risca e torna a riscar. Quando coloco, a jeito, este meu lápis, ele é capaz de trejeitos hilariantes que fazem escorregar, para este meu caderninho, desenhos que são letras e que se vão combinando em desenhos que são palavras. E essas palavras são o reflexo daquilo que me vai no espírito, acionadas pela minha mão abusadora que tudo concretiza. Às vezes, fico até perturbada por ver este bico de lápis desbravar tanto! Caio em mim, por vezes, e, outras tantas, faz com que caia nos outros. E todos eles entram neste caderninho d