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Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.

O passeio estreito sempre a direito

baixa-se a cabeça duas ou três vezes

antes de alcançar a porta de entrada. 

Estão gigantes as couves e são portuguesas. 

Há jarros por todo o lado tão brancos quanto os seus cabelos

sobre a mesa de madeira velha com veios e riscos 

são as rugas da sua dona. 

Na parede, esticam-se heras, enrolando-se em serpentina

nas telhas cor de telha. 

Não há campainha nem sininho. 

Neste pátio só penetra quem vem de conversa confiada

sem necessitar de anúncio prévio. 

Entra e fica-se, assim sem mais nada

a ver a dona a estender as suas vestes- as mais íntimas

com vagar, mola a mola em fio de arame. 

Cheiro a sabão rosa e caca de galinha. 

Roupa de lavado e promessa de ervilhas no guisado. 

Está calor. Tanto calor. A mão e a cabeça pesadas. 

As articulações rangem. Já não é a mesma dona que saía. 

Agora espera o carteiro e o padeiro, sentada.

E fica sombra à soleira da janela. 

E pia o melro. E ronrona o gato, E ladra a cadela. 

Está o forte montado. Um reino por direito. 

Está tudo certo. As flores na jarra. Os limões no prato. 

O coração ao centro. O abraço por perto. 

A hora simples. A chegada. A vassoura sossegada. 

Os minutos longos sem máscara. O sabor e o saber misturados. 

Sentir que ainda não é tarde.


( o título é um verso de Jorge Luís Borges)




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