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Tão necessário é pôr ordem na noite escura

Tão necessário é pôr ordem na noite escura quando já só existe para nos lembrar  da foz de todos os rios e não do princípio de mar

quatro estações

 és de todas as quatro e partes delas frio de rachar, pingo de chuva, ventania nevoeiro, folha peregrina, árvore despida és arrepio brisa, flor de lavanda em broto, esplanada  porto de mar, escaldando, ansiando partidas  rasgo, fuga, fervor és desafio  é um rodopiar das quatro por fora um verão eternamente em mim és tu nem sempre percebida és tu sempre a querer  és deleite refinado

prestar contas à vida

Começas a dar-te contra quando tens em conta que dás conta que tens sérias contas a ajustar. É nesse momento que a conta toma conta de ti fazes contas à vida e é só por conta própria. Continuas no contra e fazes de conta…  mas, afinal de contas, logo te dás conta que a maior conta é a conta menor que tiraste em vida. E ficam as contas saldadas.

vou, continuo e voo

vou, continuo e voo a culpa é dos areais largos e graves das caminhadas cheiinhas de cheiros e travos a culpa não é minha nem tua é das vozes que vão e das vozes que chegam a culpa é do que insiste em renascer a culpa é dos lugares que não param a culpa é deste mar revolto e belo que me ruge e seduz

olhos cor de avelã

Deixou-se sucumbir por um banho de mar, cobriu-se de ondas, nadou no seu jeito desajeitado de quem começa a aprender a andar. Cobriu-se de areia e mastigou a melhor sandes do mundo. Depois disto, a sua criança de cinquenta e dois anos adormeceu na praia. Quando acordou, ali mesmo à sua frente, a maior surpresa do dia - um cenário digno de registo. Um pai enérgico, daqueles de encantar crianças no meio do areal, enterrava o filho na areia, a mãe falava ininterruptamente com ar de quem está inundada de família, ao seu lado a filhota mais nova praticava passos de bailarina em frente ao mar. Mas o mais encantador era a presença ao centro, imponente, da matriarca que sustem tudo isto, devidamente amparada por uma bola de pêlo ternurenta e desengonçada. Um cão de pêlo cinza escuro, animal velho com ares infantis, de longos bigodes amarelados e desgrenhados. Sentava-se molemente no areal e deixava-se transformar em almofada para aquela senhora rainha daquele pequeno reino que lhe pertencia. M

pele

Este mar sabe a corpo cheira a pele.

adianta-te e mede-me o braço

adianta-te e mede-me o braço mas não me iludas, por favor, trago a asa em ferida e é só água sob este chão é sítio-fogo que só sabe ser  sítio onde, um dia, quis ser sítio cheio, sítio-olhar e por vezes dói tanto este céu inteiro e já nem preciso de ver para crer trago os ossos desalinhados faço do sorriso Porto de honra não é carência nem inocência é só dores de crescimento

mas eu ainda não encontrei o que procuro

Um copo meio cheio? Um vento que chateia? Um sol em dia de trabalho? Uma decisão pendurada? Um sorriso amarelo? Umas nuvens no céu? O quase fim do processo? A conclusão à vista? A segunda metade? O último recurso? Um falhanço do melhor? A ligeira vénia? A tentativa do outra vez e outra vez e outra vez. O quase aproximado do pretendido.  A equação do possível. A novidade da probabilidade daquilo que o passo te trará. O dia em que, satisfeitos, concluirmos que nada mais há a desejar?! 

Vai encher-se de medo

Vai encher-se de medo quando lhe disser que é o sentir, o entardecer o acordar, a vontade de sol  o passear, o estar. Há lá coisa mais simples e luxuosa de se ter! Há lá coisa mais desconcertante de se temer!