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amálgama feliz

e do incómodo que é vê-los dançar o do sapato fino e o do pé descalço numa amálgama feliz livres (a partir de um pormenor do fresco de Júlio Pomar, 1947, em Cinema Batalha, Porto)

na ponta do iceberg

na ponta do iceberg  fomos fugindo um do outro fomos fugindo de todos fomos fugindo de nós próprios  até ficarmos sozinhos  agarrados aos mortos e ao que já passou... não nos demos ao trabalho de arranjarmos um da nossa espécie  temos, agora,  como única bandeira uma insignificante folhita de oliveira  que nos priva de quase tudo de avançar, por exemplo não aprendemos a nadar e temos um dilúvio cá dentro e o raio da nau ganha raízes - das profundas com braços de torga que nos devora o cérebro e nos impede de ver o óbvio (trabalho artístico de Catarina Paulo)

numa qualquer praia - imensa e deserta

numa qualquer praia  - imensa e deserta mesmo que longe, mesmo que bela areal sossegado, alvura em onda foi-se o sol mas o corpo branco tremendo agarra-a se é que aprendeste a amar

então, me aviso

assim como eu que sempre escrevi e escrevo para regressar a mim de cada vez que há o perigo de um pequeno desvio então, me aviso

flor

É flor é nuvem é calor É bomba atómica é cravo é rumo É onda é átomo é árvore É asa é nódoa é rasgo é cor É ternura É sabor É coração a pulsar É querer um pouco mais de ti.

agora é que te provoca

dos que palpitam  docemente feitos da carne temperada e de sangue a ferver agora é que te provoca agora é que há tanto que se sabe agora é que há tantos dos que palpitam docemente agora é que há tantos versos para viver

um mais um é um

Um mais um é um Um só lugar O nosso lugar E, como dizia a canção,  A vida costumava ser tão difícil E agora é tão fácil  É a nossa casa! Sempre foi! Tão fácil, tão simples, tão certa!

marcas

Há mar e marcas marcas que a onda apaga e outras que o mar afaga

sometimes it takes you a long time to sound like yourself *

Miles Davis disse, a certa altura, que por vezes leva muito tempo até podermos “soar” a nós mesmos. Nada mais acertado e poético. Acertado porque levamos uma vida para nos conhecermos e encontrar. Poético por via da metáfora da afinação, como se fôssemos um instrumento musical. Depois de ler este pensamento muitos outros me assaltam. Por exemplo, pensar quantas vezes desafinamos porque não conseguimos lidar com uma situação. Quantas vezes tocamos fora de tom porque a pauta se torna complexa e difícil de ler… ou ainda, as vezes que destoamos porque algures na orquestra, em que habitualmente tocamos, alguém toca desafinado… Acredito cada vez mais nessa ideia de evolução por camadas. Há quem prefira tratar por fases, mas eu gosto mais da ideia das camadas, como se, com passar do tempo, fôssemos descascando a cebola até chegar ao seu bolbo, ao fulcro ou à essência daquilo que somos. Há dias li uma frase que sugeria imaginarmos ter 99 anos, estarmos no nosso “leito de morte”, em que nos ser