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Nostalgia. Palavra bonita, algo triste, mas leve.

O tempo de natal é, quer se queira quer não, tempo de recordações. Há uns pozinhos no ar. E, neste caso, foi nostalgia. Palavra bonita, algo triste, mas leve. Provoca sorriso tímido e faz chegar algo doce e reconfortante. 

Assim foi, ontem, num cinema. Por acaso foi num cinema bonito e em boa companhia. Foi um passar de testemunho. E recordei o meu pai que me costumava levar ao cinema. E levei a minha filha ao cinema. E recordei o meu pai que me oferecia livros que é, de resto, a melhor prenda que nos podem dar. Um desses livros, que faz parte do meu imaginário infantil, é "As meninas exemplares". De certeza que ele próprio o leu, mas mal ele sabia que haveria de me apaixonar por Sofia, a personagem mais intrincada da história, mais inquieta, mais criativa e cheia de vida. E o filme que fomos ver chama-se "As meninas exemplares" de João Botelho. E ele próprio ali estava, no meio dos espetadores, para falar connosco. Falou da vida, dos tempos modernos, do cinema que não passa de uma "mentira", do seu Nokia, da Praça de S. Marcos e de Paula Rego que serviu de inspiração para os cenários e composição das personagens que expõe com toda a crueldade e verdade associadas. Caras e corpos de adultos com falas e cabeças de criança. 

Foi uma viagem à minha casa de infância, às páginas de um livro recheado de desenhos. Foi um regresso às tropelias e brincadeiras, ao funeral da boneca, à ferida no joelho, às lutas com o meu irmão, aos ralhetes da mãe, ao chá de ervas e água do cão, ao pai - nosso impingido, ao mistério e ternura de andar descalça pelos quintais.





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