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Provocam-nos tão quentes e tão cheirosos em dia frio.

Eu sei que ainda há pouco era verão, mas este vento impertinente zune ali fora como se fosse inverno. E chove, não a potes, é verdade, mas o suficiente para nos deixar num estado de tal molenguice que até dói. E este registo meteorológico é ponto de partida para vos falar de algo extremamente simples como o pão. E de um sítio aprazível como a padaria. Há algo de branco e fofo nas padarias que me causa uma espécie de conforto em dias como este. Tudo se mistura: o som do vento, a água da chuva que esfria os pés, o aroma a café que nos incha as narinas e o cheiro contagiante da última fornada a espevitar todo o nosso sistema olfativo, parente próximo do sistema afetivo. Neste contexto sinestésico entram em cena os pães, resvalando aos trambolhões para uma qualquer montra envidraçada. Fazem-se. Deixam-se admirar. Provocam-nos tão quentes e tão cheirosos em dia frio. E do caminho que fazem do forno à mesa há apenas uns centímetros de paz. Quando nos chega este pão às mãos, depois de ter passado pelo nariz, é só abrir os beiços e mandar-lhe uma trincadela como quem abocanha bolas de Berlim no areal. E parece, de repente, que a maresia entrou pela padaria adentro, provocando uma excelente mixórdia de estações.





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