Nestes tempos todos se queixam
da falta de pulmões e do silêncio dos seus corações
dos pés sem chão e das mãos sem reação
da cabeça à roda e do nó na garganta
sofrem bastante por mal nenhum
ficam com fome porque querem
passam horas à janela a ver os outros passar
mas a maior desgraça é esta
não dão grito alarmante
exibem sorriso brando
como quem conta as malhas manobrando
agulhinhas de crochet em trique trique
é assim que o paninho vai ficando enrodilhado
pelas voltas em apatia
é assim que o paninho vai crescendo, vai crescendo
sem grande alarido
(fotografia de Taslima Akhter)
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