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A mostrar mensagens de julho, 2020

Assim vai o corpo assim está a alma

Vai a cabeça ao tecido e desliza pelo corpo abaixo o vestido Manga larga roçando os cotovelos e há nos ombros a cor que o sol dourou Vestido leve, leve a abrir na minha perna passo solto, passo descontraído Ancas balançando ao sabor dos dias quentes e sou pele à espera da carícia do vento Assim vai o corpo assim está a alma Preciso apenas deste intervalo O tempo de uma pausa Pois ainda ontem estava o fardo pesado eram peças e peças de roupa aprisionadas às vezes à chuva à espera de melhor fado mas agora vou leve, leve deliciosamente despida pelo tempo Mónica Costa

Ridícula alegria

O quê? Jogar agora?!! Mas tão de repente, pareceu-me ouvir aquelas vozes das crianças vizinhas que vinham chamar-me depois do jantar para, ajoelhadas no passeio, ali mesmo no meio da rua, nos atirarmos a um Jogo da Glória ou a uma Sueca, ainda a noite era uma criança…  Em memória dos bons velhos tempos, lá aceitei o desafio. Estava a noite quente e convidava a um sentar na soleira quente da porta. Queriam que jogasse um Jogo de Damas. Caramba! Há quanto tempo não via eu um tabuleiro de jogos. Estava convencidíssima que já ninguém jogava a uma coisa destas. Ainda se fosse um jogo de Xadrez! Agora, um tão singelo jogo de damas era quase incompreensível. Não é que admire o Jogo de Xadrez, pelo contrário. Se há jogo a que nunca achei piada foi ao Jogo do Xadrez. Sempre o considerei um entretenimento de gente inteligente que se esgota em manobras lógicas numa ponderação demasiadamente calculista. Gente apostada numa concentração e silêncio aterradores, próprios de quem sabe jogar na vida

acho que sou quem gosta de brincadeira

Note-se! É que dou por mim, de quando em vez, a descer as escadas aos pulinhos ou a fazer disparates pequeninos. Acho que sou quem gosta da brincadeira. De atirar os sapatos ao ar e saltar à corda com chinelos. Dou comigo a chafurdar-me com a mangueira e limpar a boca com a palma da mão. Correr para ver quem chega primeiro ou bambolear na cadeira. Como gosto da brincadeira! E que prazer faltar à escola e deixar as tarefas por fazer! Fugir para a praia e estender-me de barriga no chão e fazer castelos na areia. Gosto de vestidos rodados e do verão, de ouvir música e cantarolar e pôr a fita no cabelo para ficar mais bonita. Gosto de trincadelas e abraços, de despentear cabeleiras e de te encher de cócegas. Acho que sou quem gosta da brincadeira. Adoro gelados, petiscos e beliscos. Gosto de rir. Gosto de chorar e provar o salgado das lágrimas. Gosto de cheirinhos e beijos no nariz. Tenho a impressão que não envelheço… Tenho a impressão que estou a ficar menina… (foto de Robert

aos Homens de boa vontade

Aos Homens de boa vontade! Quais? Aos que tentam conservar alguma boa vontade apesar de cansados? Aos que têm a vontade de acreditar na boa vontade apesar das ladaínhas e pragas? Ou aos que, sem vergonha e sem precisar de desculpas, se colocam ao serviço de uma vontade que só a eles lhes pertence? Mónica Costa