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certas palavras como farpas

- Ó Zezinho?!!!!
-  Zezinho??!!... – ouvia e protestava!
É que nem percebia o porquê de tanto corte e cose naquele nome. O homem não era pequeno, pelo contrário. E sempre achara o nome José um nome capaz, um nome que indicava masculinidade e impunha respeito. Era nome sonante, nome digno de registo histórico tal como Afonso, Henrique ou Adão. E era por estas e por outras que odiava os diminutivos e, embora lhe dissessem que era uma forma carinhosa e muito portuguesa, ele continuava a encarar esta forma de tratamento como um modo de baralhar a ordem natural das coisas. E ficava tão chateado perante os Nelinhos, Eduardinhos, Tininhas e Guidinhas que ninguém conseguia entender tal perturbação. Já para não falar do incómodo que lhe causava o senhor Joãozinho que geria a Adegazinha da Lurdinhas e que atendia os clientes de sorriso nos lábios, sempre muito atencioso, cantarolando a ementa do dia e disparando em todas as direções palavras afetuosas como cafezinho, arrozinho, franguinho frito e um vinhozinho da casa. O Zezinho deixou de frequentar a adegazinha da Lurdinhas em três tempos, embora gostasse muito do arrozinho de tomate e dos verdinhos.
Já agora, ficam sabendo que o nome de quem protesta é Agostinho! Este nome nem sequer dava para qualquer corte e cose. Portanto, retirem daqui as vossas conclusões. A vida nem sempre é fácil para alguns, principalmente, para aqueles que carregam certas palavras como farpas.

Mónica Costa


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