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Cuidadooooo... plof!

Estar assim desprendida numa rua qualquer faz com que se dirija o olhar para os mais banais pormenores. 
Chuva miudinha em manhã de Carnaval. E ía a gente sem guarda - chuva na esperança da chuva passar. Havia foliões à espera da folia que nunca mais chegava. E era vê-los de collants coloridos e manga cava, óculos rosa choque e cabeleiras de espanto, caras em Ó de quem tirou dia de folga para se mascarar das máscaras de todos os dias.  E eu que estou assim desprendida e sem collants coloridos, arrisco-me a ganhar imunidade diplomática. E eis que atinjo uma menininha vestida de princesa. Um simples vestido tão fino para tão chato dia de frio. A miúda, pensei, deve estar a congelar! Mas, em vez de congelamento, o processo a que assisti foi muito mais espetacular! A criança começa a correr e evapora-se por entre as gotas finas da chuva. Plof! Um banal pormenor! Desaparece que nem feitiço de fada madrinha ou bruxa maléfica. Fica apenas no chão uma coroa em tons prateados e uma cabeleira amarela. Mal sabia a rapariguita que a fantasia atinge, hoje, níveis surreais de realidade. Os pais, seres amorfos de todos os dias, nem reparam porque, como é carnaval, ninguém leva a mal. E ninguém reparou a não ser eu que, desprendida, dirigi o meu olhar para os indivíduos de collants coloridos…plof!

Mónica Costa
(Pintura de Yury Macik)




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