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Mensagens

O urgente, mas sobretudo o emergente.

Tenho tentado todos os dias um pouco mais E é nesta tarefa de infindável paciência neste assomo de curiosidade pelo que ainda falta que tento todos os dias um pouco mais Uma espécie de jogo que me encanta que me dá a possibilidade de acreditar na razoabilidade luminosa de todas as coisas As grandes, mas sobretudo as pequenas As sonoras, mas sobretudo as silenciosas As concretizadas, mas sobretudo as adiadas O urgente, mas sobretudo o emergente.

Chamar-lhe um figo

Ela juntou-se a mim ou fui eu que me encostei à sua sombra. Já nem sei. O que sei é que, quando dei por mim, tinha nas mãos estas doçuras que ela me dera. Ou fui eu que lhas tirei. Já nem sei.   O que sei é que há quem as devore inteiras. Eu prefiro pegar-lhes com as duas mãos. Com cuidado. São moles e são umas doçuras. Exigem cuidados. Ou esventro-as, tal a ansiedade de lhes meter a boca. Já nem sei. O que sei é que, quando dei por mim, já não era uma, eram quatro e todas despedaçadas. E há restos que ficam. O que sei é que há quem as devore, engolindo-as por inteiro sem deixar qualquer vestígio. Eu costumo deixar vestígios e já não consigo disfarçar felicidades.

Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.

O passeio estreito sempre a direito baixa-se a cabeça duas ou três vezes antes de alcançar a porta de entrada.  Estão gigantes as couves e são portuguesas.  Há jarros por todo o lado tão brancos quanto os seus cabelos sobre a mesa de madeira velha com veios e riscos  são as rugas da sua dona.  Na parede, esticam-se heras, enrolando-se em serpentina nas telhas cor de telha.  Não há campainha nem sininho.  Neste pátio só penetra quem vem de conversa confiada sem necessitar de anúncio prévio.  Entra e fica-se, assim sem mais nada a ver a dona a estender as suas vestes- as mais íntimas com vagar, mola a mola em fio de arame.  Cheiro a sabão rosa e caca de galinha.  Roupa de lavado e promessa de ervilhas no guisado.  Está calor. Tanto calor. A mão e a cabeça pesadas.  As articulações rangem. Já não é a mesma dona que saía.  Agora espera o carteiro e o padeiro, sentada. E fica sombra à soleira da janela.  E pia o melro. E ronrona o gato, E ladra a cadela.  Está o forte montado. Um reino por

das águas que te trouxe até mim

magnífica fileira de dentes sãos que abocanham o último resquício do mundo que é sua pertença traz os olhos cheios de horizonte  o coração em caco transporta a pedra do caminho é atenção  é abraço é nariz agarra que é mão  pele com pele marca do tempo é lábio que sorri a tudo isto carapaça rígida sacudida de verdes e azuis em silêncio temperamental das águas que te trouxe até mim dorso por dentro que é luz e diz respeita que é natureza!

trouxa mocha

 Ó cabeça de vento,  tens mais olhos que barriga!

secreto privilégio

Há gente que é do ver  e esquecer Secreto privilégio dos afortunados que não acumulam nada Pudesse eu ser assim...

Além do sol, além do Sete-Estrelo

Podes ir.  É só querer.  Depois de lá estares vais ficar maravilhado e vais dizer.  Ainda bem que vim.  Porque quando nos dispomos verdadeiramente a ir,  parece que tudo se prepara para nos receber. (o título é um verso de Natália Correia)

Em marcha sempre vertiginosamente em torno de si/ Cruzando-se em todas as direções com outros volantes

Precisamos que nos dirijam a palavra  para nos lembrarem que andamos vivos Porque a morte é algo que acontece por vezes e, se nos distrairmos, incorrendo em silêncios desmedidos corremos o risco de ficarmos de campa aberta e de rosa ao peito  com ar de quem não pagou a promessa. ( o título são versos de Álvaro de Campos)

Só é tua a loucura/ Onde, com lucidez, te reconheças.

De igual para igual  e desfeita a desvantagem impõem-se dois, três passos firmes. Passada a zona de rebentação atinge -se o mar imenso que se estende a meus olhos pesado, intenso. Não visto de longe,  mas de dentro. Para quem aprendeu a mergulhar de cabeça tardiamente. Este mar... ( o título é composto por dois versos de Miguel Torga)