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Mensagens

é filho teu que sai a ti, geógrafa de sapatos!

Este é o ponto fulcral de transição a linha que divide o antes e o agora e a ela te agarras quando sentes que um filho teu aprendeu a voar! E nenhum argumento vale mais do que este o que tu sabes que é a mais pura das verdades é filho teu que sai a ti, geógrafa de sapatos, é ser de luz que não retém a sua marcha! (foto de Isabel Munoz)

E nos teus, por acréscimo.

Caminhas neste dia ao meu lado e és a única pessoa que me interessa. És a conta de subtrair mais encantadora que conheço. Depois de muitos, sobram sempre poucos e, desses poucos, às vezes, ficou apenas um. E vou com sorte porque há quem acabe só. Mesmo só. Atravessamos a rua de mão dada e fui feliz. E tu sabes bem que sou. E temo que vá durar o resto desta vida inteira porque desejamos que assim seja. Caminho a teu lado sem pressa para que sejamos capazes de observar todos os que nos afastam. É preciso, agora e mais do que nunca, ter olhos para apreciar estes campos e esta tarde. E a mais bela das tardes ficará para sempre nos meus olhos. E nos teus, por acréscimo. E esta não urgência de não precisar de te relembrar tudo isto é pura felicidade. (foto de Clarissa Bonet)

Sob um furor inusitado escapou-se o lenço em tons de ocre

Sob um furor inusitado escapou-se o lenço em tons de ocre pelo tejadilho escancarado do carro. Lá vai ele espalhando possibilidades qual rei da festa que é só nossa soltar-se-á sem freio neste céu acabando, no final, aparcado em qualquer copa de árvore. Acontece-me, agora, e, por júbilo, não mais querer saber daquele que, afinal, meu cabelo refreia. Bem mais vadio que o lenço ocre que se escapou é o tejadilho que quisemos escancarado nesta festa que é só nossa.  (pintura de Izumi Kogahara)

Tão necessário é pôr ordem na noite escura

Tão necessário é pôr ordem na noite escura quando já só existe para nos lembrar  da foz de todos os rios e não do princípio de mar

quatro estações

 és de todas as quatro e partes delas frio de rachar, pingo de chuva, ventania nevoeiro, folha peregrina, árvore despida és arrepio brisa, flor de lavanda em broto, esplanada  porto de mar, escaldando, ansiando partidas  rasgo, fuga, fervor és desafio  é um rodopiar das quatro por fora um verão eternamente em mim és tu nem sempre percebida és tu sempre a querer  és deleite refinado

prestar contas à vida

Começas a dar-te contra quando tens em conta que dás conta que tens sérias contas a ajustar. É nesse momento que a conta toma conta de ti fazes contas à vida e é só por conta própria. Continuas no contra e fazes de conta…  mas, afinal de contas, logo te dás conta que a maior conta é a conta menor que tiraste em vida. E ficam as contas saldadas.

vou, continuo e voo

vou, continuo e voo a culpa é dos areais largos e graves das caminhadas cheiinhas de cheiros e travos a culpa não é minha nem tua é das vozes que vão e das vozes que chegam a culpa é do que insiste em renascer a culpa é dos lugares que não param a culpa é deste mar revolto e belo que me ruge e seduz

olhos cor de avelã

Deixou-se sucumbir por um banho de mar, cobriu-se de ondas, nadou no seu jeito desajeitado de quem começa a aprender a andar. Cobriu-se de areia e mastigou a melhor sandes do mundo. Depois disto, a sua criança de cinquenta e dois anos adormeceu na praia. Quando acordou, ali mesmo à sua frente, a maior surpresa do dia - um cenário digno de registo. Um pai enérgico, daqueles de encantar crianças no meio do areal, enterrava o filho na areia, a mãe falava ininterruptamente com ar de quem está inundada de família, ao seu lado a filhota mais nova praticava passos de bailarina em frente ao mar. Mas o mais encantador era a presença ao centro, imponente, da matriarca que sustem tudo isto, devidamente amparada por uma bola de pêlo ternurenta e desengonçada. Um cão de pêlo cinza escuro, animal velho com ares infantis, de longos bigodes amarelados e desgrenhados. Sentava-se molemente no areal e deixava-se transformar em almofada para aquela senhora rainha daquele pequeno reino que lhe pertencia. M

pele

Este mar sabe a corpo cheira a pele.