Miles Davis disse, a certa altura, que por vezes leva muito tempo até podermos “soar” a nós mesmos. Nada mais acertado e poético. Acertado porque levamos uma vida para nos conhecermos e encontrar. Poético por via da metáfora da afinação, como se fôssemos um instrumento musical. Depois de ler este pensamento muitos outros me assaltam. Por exemplo, pensar quantas vezes desafinamos porque não conseguimos lidar com uma situação. Quantas vezes tocamos fora de tom porque a pauta se torna complexa e difícil de ler… ou ainda, as vezes que destoamos porque algures na orquestra, em que habitualmente tocamos, alguém toca desafinado… Acredito cada vez mais nessa ideia de evolução por camadas. Há quem prefira tratar por fases, mas eu gosto mais da ideia das camadas, como se, com passar do tempo, fôssemos descascando a cebola até chegar ao seu bolbo, ao fulcro ou à essência daquilo que somos. Há dias li uma frase que sugeria imaginarmos ter 99 anos, estarmos no nosso “leito de morte”, em que nos ser