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vão-se os dedos e ficam os anéis

Hoje, durante a minha caminhada, dei de caras com esta casa. 

Impôs-se-me ao ponto de me obrigar a suster a passada. Talvez tenha sido, a seu tempo, uma das casas mais bem compostas do sítio. Uma casa em pedra, rés-do-chão, primeiro andar. Bem localizada, muito perto do centro da cidade. Bom terreno e outrora cheia de gente nela que a enchia de esperanças. Se tivesse ficado apenas por uma olhadela superficial, teria concluído tratar-se de uma banal casa em ruínas. Só fachada. Nada de especial. 

No entanto, desacelerei para observar. Topei uma ainda janela entreaberta, meia portada verde sulfato que permitiu enxergar o interior. Afinal, não era só fachada. Aquela casa era principalmente interior. Não a preto e branco, mas a cores primárias e secundárias em perfeita comunhão. Um quadro magnífico de estragos que o tempo impõe. Um interior húmido, sombrio e rico em destroços. A gente daquela casa desertara, morrera. Tudo o que ficou foi sendo alvo da ação implacável do tempo. 

E como ainda não apareceu retroescavadora que a esventrasse, ali se mantém firme na assunção dos seus e nossos fantasmas. 






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