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rastiho

admirar-te deste ponto é perceber-te as raízes em esplendor por aí acima
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será a ágil indolência de sucessivas aberturas em que veremos as labaredas de um outro sentido

aquele mesmo poema desde sempre do mesmo jeito por hábito um dia reparas nele com outros olhos de ver há que reaprender a olhar ele é o mesmo poema de sempre mas nem imaginas o quanto mudou aquela que o lê ( o título é de António Ramos Rosa)

Está uma tarde parada com uma chuvinha que chora

Está uma tarde parada com uma chuvinha que chora Ruas quentes agora onde ainda ferve o asfalto Silêncio absoluto. Umas pingas cortam-no em instantes ritmados  batem na chapa torta mesmo aqui ao lado um pingue – pingue que parecem lágrimas espaçadas Estamos todos confinados.  Menos aquele gato. Gato vadio que tem direitos que eu não posso. Passeia imune na rua por cima do telhado de chapa Uma chapa torta mesmo aqui qual fronteira farpada que recebe as pingas que cortam este nosso silêncio e serve de trampolim a este gato vadio que insiste  Foge o gato.  Volta o silêncio absoluto.
no lá longe há sempre  algo de cativo faminto ou furtivo

fugas

A nossa noite ontem à tarde foi a manhã por que esperávamos David Mourão- Ferreira

ponto de orvalho

6.30.parecia ainda madrugada.  tão sem boca. silêncio absoluto.  aliança concertada. céu e terra. manto cerrado.  um olho aberto. outro fechado.  linha de horizonte simulada.  o perto se faz miragem. e aos poucos.  tímido ponto de luz. e é vê-lo surgir.  envolto e velado. o dia. em ponto de orvalho.  

e entro nesta que sou de verdade

sacudo a poeira da estrada deixo o mar alto à entrada limpo um e outro pé da deriva dou duas ou três voltas à chave respiro fundo está alma servida e entro nesta que sou de verdade

a cidade é grande e tu és uma só

A cidade é grande tem quatro milhões de habitantes e tu és uma só. Em algum lugar estás a esta hora, parada ou andando, talvez na rua ao lado, talvez na praia talvez converses num bar distante ou no terraço desse edifício em frente, talvez estejas vindo ao meu encontro, sem o saberes, misturada às pessoas que vejo ao longo da avenida Ferreira Gullar

ali, à porta da Barbearia Veneza

Os Aliados, com chuva, é avenida que nunca mais acaba. " Ó menina, chove que deus a dá!"- soa a voz de dentro. Foi por este motivo que cortei à esquerda, na esquina do Hotel dos Aliados, e entrei no número 37. "Fique  sabendo que esta barbearia foi ponto de encontro dos cavalheiros da cidade. Em quase todas as manhãs chuvosas como esta, vinham cá o Tino Coçado, o João dos Baixos e o Finório de Louredo. Uma vez até veio a Alice Tripeira... ganhou coragem e adentrou-se por entre todos eles, pedindo um corte curto e de risca ao lado. Com mais cuidado, reparo no espaço de onde vinha a voz de dentro. Subitamente, até parece que me vem ao nariz um cheiro a aguardente barata em balcão de mármore, parece ouvir-se aquele rouco soar a relato futebolístico de tardes de domingo. E foi como se, de repente, a mercearia da esquina da rua da minha infância abrisse portas e eu assistisse, impávida, ao desfilar de latas de atum, caixas de Omo e vários tubinhos de pintarolas encostados uns