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mas parte integrante do todo

Com a idade têm as madrugadas outro sabor são início de caminho para muito mais Com a idade aprendemos a encher o peito de ar como quem devora e gosta de aqui estar Com a idade ficam as coisas mais pequenas colam-se-nos à pele, arranjam morada E à medida que o tempo passa, mais o mar insiste Conseguimos desenhá-lo à sombra do que somos à luz do que queremos e amamos e somos quase sempre muito pouco comparados uma partícula minúscula perante a grandeza do que nos rodeia mas parte integrante do todo
Mensagens recentes

foste tu quem me fez parar a meio

foste tu quem me fez parar a meio fiquei estanque mesmo a meio da rua a deter-me como que por feitiço  num pedaço de tronco a vê-lo ver para além do tronco as folhas, as flores ainda por nascer e agora eu própria cheiro a rosmaninho ou alecrim é algo que me deposita, ondula, fala por mim

umas empreendedoras madrugadeiras de asa preta

Nestes últimos tempos tenho acordado muito cedo, muito antes do cantar dos pássaros. Vou com um olho aberto, outro fechado, cabeleira em sobressalto e pijama em desalinho em direção à janela. Abro-a sorrateiramente e apanho-os, normalmente, sem pio.  Mas, hoje… sou surpreendida por umas empreendedoras madrugadeiras de asa preta. Nem imaginam quanto chilrear há neste alpendre! Mesmo aqui, no canto superior direito desta varanda do segundo esquerdo, descubro um ninho de andorinhas! E nada estão preocupadas com a barulheira que me espanta. Lá andam na sua azáfama, entrando e saindo dos ninhos em execução, desenfreadas e em grande alarido como quem prepara uma festa. Três ternurentas bolinhas pretas sobrevoando o meu pátio e vão chamando outras numa alegria tal que nem dão por mim. E assim me conseguem convencer de que vale a pena começar o dia a sorrir e encará-lo como dia de festa. Aos primeiros, embora tímidos, raios de sol, fico completamente rendida a esta luz que alimenta este ba...

o meu amor perfeito

hoje, o meu amor, pelos comboios obrigou-me a ir bem cedo  e fui hoje, o meu amor, mal lá cheguei acolheu-me e confidenciou-me cantam os pássaros quando vens fica o dia mais bonito quando ficas e sentes-te bem quando estou aqui também

trabalho árduo

O que me sustenta não é o trabalho árduo nem a papelada nem os sérios problemas da humanidade! O que me sustém é esta necessidade de não fazer nada! E ter a coragem de o dizer quando todos parecem tão atarefados! E andar por aí! Como quem respira. Como quem doma a cor, a temperatura, as texturas. Como quem adora as coisas vãs que não interessam a ninguém. E como é difícil convencer os demais que sou feliz assim…

mãe, para ti, são apenas os dias simulados

Neste sítio que não sabes onde nem quando nem porquê és a que já não pode ter nem estar e a quem nem vale ao menos o orgulho de poder supor que é. Cá fora, à tua volta, o mundo continua: o dia desponta, ora faz chuva ora faz sol fogem-nos os minutos neste dia-a- dia atarefado mas, para ti, são apenas dias simulados. Esta vida tão exata, tão calculada a régua e esquadro tão importante, tão cheia de números e nomes não passa, para ti, de um mundo efémero e imaterial.

Porque qualquer coisa se aligeira em nós. E aceita tudo mais nitidamente.

Já te conto, se quiseres ouvir quantas flores eu colhi nos anos da minha infância. Levava na altura um cesto que enchia de flores amarelas as do campo que mal prestam mas cujo aroma só delas enchia uma casa inteira. E, de súbito, o sol, só de as lembrar agora, banha este pátio de luz. ( o título é de Alberto Caeiro)

A Paz!... esse conceito abstrato

Fazer as pazes é termo bom e mais, muito mais, do que fazer a Paz A Paz!... esse conceito abstrato mas que só se concretiza quando em mim e em ti quando inicia por o que está mais à nossa mão. A minha paz, a tua paz, fazer as pazes feitas assim uma da outra

o que fomos e o que somos

Cada vez mais extremos disto e daquilo.  Ou se está pateticamente feliz ou exageradamente deprimido. Ou se está morto de cansaço pelo trabalho excessivo. Ou parados num tempo inútil. Ou nos (des) encontramos ou nos isolamos.  Ou vivemos no caos ou vivemos na exímia ordem.  Já não há lugar nem paciência. Ou é oito ou oitenta. Parece que só ambicionamos o excesso, a estrutura. Vivemos atafulhados de estatutos e de planos cumpridos ou por cumprir.  Idolatramos os pés bem assentes no chão, os horários certos. Ambicionamos a confiança, o definitivo, mas vivemos de pé atrás. Queremos ser os lugares certos, mas atormentados pelo desejo. Viramos o rosto para o chão com medo de pisarmos as nuvens.  Temos receio do novo, da doença, dos fins e do bicho papão. Invade-nos a apatia, o desconsolo, subsistem as horas incompletas.  Somos cada vez mais chumbo ou ferro ou dor. E menos flor, fogo, ar ou luz.  Somos cada vez mais almoços atrapalhados e relações de circunst...