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A luz acende-se. Está o pátio molhado e cheira a hortelã.

Ver-te assim à janela à espera que o gato regresse e, de repente, fazer-se música aí dentro enquanto a chuva cai. Trago o cesto cheio de fruta madura acabadinha de colher e uma saca de pão. Entro e está o forno a aquecer, a mesa posta. Está a mão na massa. Canta o pássaro na gaiola. Varre-se as migalhas e guarda-se o saco da farinha. Trinca-se umas nozes e recomeça a morrinha. Está um dia bonito e chuvoso. Mas é dia de passo lento e de descanso. Dia de família. Está quase no fim o dia. A luz acende-se. Está o pátio molhado e cheira a hortelã. Arrastam-se os chinelos pela casa e mia o gato lá fora. As jardineiras continuam vermelhas e já demos banho ao cão que vem desenfreado esfregando-se na alcatifa da cozinha. Está, hoje, a casa cheia. E tudo isto acontece enquanto desliza o caracol a baba na parede da varanda. 

Tem esta particularidade interessante de desafiar a lei da graciosidade

 Enrola-se em si por entre os cabelos Tem esta particularidade interessante de desafiar a lei da graciosidade E nem o tempo se ofende! Teima em prolongar o entretenimento Neste enrolar descontraído de dedos em S E fica assim alheada por entre os cabelos enrolados em S por entre os dedos

Ai a minha perigosa vulnerabilidade!

Uns altinhos de toupeira pelo jardim fora. É uma casa abandonada.  Espreito sempre que vejo uma janela aberta em casa abandonada  Vá-se lá saber porquê! O sol que se viu é coisa que não se esquece.  Deve ser por isso que, mesmo em dias de chuva como o de hoje há sempre algo de sol que consigo enxergar.  Normalmente, nos jardins abandonados há coisas de sol.  Como esta que vos exponho.  E eu adoro-te, mas este verão não me há de escapar.  E, de repente, lembrei-me de alguém que anda sempre nas nuvens.  Ai a minha perigosa vulnerabilidade!

((um modo, ainda de amar

Não sei dizer quem de nós partiu de nós primeiro Gosto de pensar que partimos juntos, como se Ir pudesse ser jeito de permanecer ainda uma espécie de plano a dois (um modo, ainda de amar) Mar Becker

are you part of the Universe or is the Universe part of you?

porta tão branca que se abre tão estreita para tanto corpo que a enche trajeto que se revela tão curto para tão longa viagem uma espécie de espaço e tempo no qual nos inserimos ou que nos habita

descalço-me de sombras para chegar a ti

descalço-me de sombras para chegar a ti as linhas do meu rosto são claríssimas nelas não vês o velho, a criança, o adulto vês apenas o traço comum que é onde eu procuro a tua mão na transparência da minha palavra inteira (Vasco Gato)

Um fragor: é

UM FRAGOR: é a verdade ela mesma que surge entre as pessoas, no meio do turbilhão de metáforas. (Paul Celan)

E lá vai o sujeitinho impune a mexer com as nossas consciências

Uma manhã de nevoeiro, fria. Cheira a torradas. Acabei de engolir o café da manhã e aqui estou eu, dentro do carro, pronta a empreender o mesmo trajeto de todos os dias.  Todas as manhãs, mal dobro a esquina do muro de Vinhas da Índia, deparo-me quase sempre com o mesmo cenário. O trânsito automóvel aumenta e a estrada parece diminuir. Carros e camiões, às vezes tratores e motoretas. Uma azáfama! E no meio da confusão, surge sempre a mesma figurinha de que me apetece falar-vos.  Vai na berma da caótica estrada, correndo o risco de ser atropelada. É que os passeios são exíguos e mal engendrados nesta estrada nacional. São sete e quarenta e cinco deste dia de nevoeiro. E lá vai ele. É um indivíduo magro, aparenta ter sessenta e tal anos, poucas rugas, bastante cabelo grisalho, bem penteado, roupa clara, tão clara que parece exalar um cheiro a sabão Rosa nesta manhã de nevoeiro. Vai direito como quem cumpre um dever, apesar do passo descontraído. Eu penso até que, para ele, a rua está des

o natal é mulher

O Natal é Mulher.  Porque é cor.  Porque é mesa. É alimento.  É companhia. É calor.  Porque é beleza.  É luz. É brilho. É nascimento.  É magia. É alma. É amor.