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O mundo da música é misterioso

O mundo da música é misterioso e o das folhas também. O dos campos coloridos. Principalmente quando o chão nos canta os passos. Faziam barulho os meus passos. E foi tal o chinfrim que tu me ouviste e respondeste. Eu pouco sei de anjos ou música. Mas por vezes, aparecem-me sob a forma de ramos esgaçados em tarde ensolarada. E as tardes de luz encerram um mistério e uma música deliciosos.

Se

Se fosse cisne, seria despedida Se fosse comboio, seria partida Se fosse homem de bem, falar-te-ia  como convém Se fosse sonho, adormecia Se temesse, esconder-me-ia E se enlouquecer, por favor, não queiras que pense só como te convém Se fosse lua, seria calmaria Se fosse regra, subjugar-me-ia Se fosse homem de bem, compreenderia as distâncias entre os amigos Se fosse apenas eu, choraria Se fosse eu e tu, seria alegria E se enlouquecer, por favor, deixa que entre neste jogo, novamente

olhos excessivos

a água um chafariz - e todo o mar em volta - o vento a tua face o meu nariz – e todo um fogo -  alento as flores os frutos as raízes -  e tudo inteiro  - fermento os meus olhos e os teus– e toda a paisagem cá dentro o coração uma bala vertigens – e tudo em movimento a palavra a vida  o fascínio – eis os nossos momentos

aconteceu e ninguém suspeitou de nada

há quanto tempo  temias ou ambicionavas essa descoberta de ti? esse filtro que te protege essa cor que te cobre é ouro?

e pude, deslumbrado, Saborear, enfim, O pão da minha fome

é preciso que se agigante o abismo a nossos pés a pedra dura uma manhã em que não se pode mais ou a temperatura excessiva de uma tarde um colapso, como este, tão azul noite as paisagens adversas, as trevas e os precipícios o testemunho de uma morte é preciso que percamos a razão ou a companhia é preciso que se caia do pedestal em lodo lamacento é preciso passar uma noite ao relento sentirmos a lança pontiaguda no dorso animal sentir o descompasso das  pulsações por não se achar solução  para que se perceba o poema ( o título é de Miguel Torga)

um gesto de espera do outro lado

O cão é o primeiro a sentir-te chegar mal pisas  o asfalto molhado  em direção à porta  há um ténue estalar um gesto de espera do outro lado há de concretizar-se esse encontro  tu pingado da chuva do fora que arrefece mas ele contorcendo-se  esbanjando-se em alegria genuína que enternece

e é remédio santo não afligir a aflição

deu-me para pôr a mão em vários sítios que não o peito e sentir o coração muito para além deste corpo não quis dirigir-me ao sítio certo porque enfim já sei que anda por perto a intenção mas não a ação e é remédio santo não afligir a aflição

que insiste em nós e avança alvo puro

recomeço como quem reaprendeu a nadar de bóias redondas feita corpo pequenino que cedeu e se deixa enlear pelas ondas recomeço como quem sabe de cor  palavras tidas como incertas mas faz delas uma dança e atira lá bem para trás o pior  recomeça-se sempre que se quiser não dar por terminada a criança que insiste em nós e avança alvo puro

custa perceber como és tão doce!

doce demais para mim que amas as manhãs e eu as noites tu um passarinho triste e eu um corvo que adoras as guerras e eu a paz tu que te divides por muitos e eu tão um-só que te ficas pelas metades e eu tão tudo não queiras saber de mim porque não sou flor que se cheire…