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A mostrar mensagens de setembro, 2023

Surge uma melodia suave e bela que cobre toda esta manhã

 Surge uma melodia suave e bela que cobre toda esta manhã.  Vem em abraço gigante alargando.  E o som fininho espalha-se e passeia por entre a multidão.  Agarro-a! Vestiu-se de manhã de verão, à vontade, em andamento lento…  100 batimentos por minuto.  Solta-se em leve piar que encanta os distraídos. E, agora, que vieste devagarinho, aproxima-te, desfilando serenidade. E, já agora, que vieste para me dar a mão, atravessa-me! E a música entra em mim e vai alargando… Acelerando Vai em crescendo! Ondulam as voltas em alegria, andamento rápido 150 semínimas por minuto. Ergues-te em êxtase na agora tarde lenta Rebombam batimentos, pancadinhas agudas no coração.  Pulsação forte, passo firme, passo gigante, corpo a corpo, ondulação serena.  Deixa fluir! Balança!  Música que faz sorrir. Arrepio, pé a tremer.  Os sentidos estão moles, mas alerta, a compasso.  Acelerando Vai em crescendo! Ondulam as voltas em alegria, andamento rápido, 160 semínimas por minuto. Calma!  E a música vai diminuindo

Ensina-lhe o lugar do afeto e do conforto

Ensina-lhe o lugar do afeto e do conforto pega nela ao colo bem juntinho associa-a a um tempo sem pressas E lê-lhe uma história! Devagar, mas com expressividade Bota-lhe sentimento! Se repetires isto muitas vezes vais ver a tua criança a crescer e a aprender a ser um leitor adulto  com o carinho de quem sabe acolher as palavras e as pessoas com bondade.

n u n c a m a i s

Um dia, alguém ou mesmo algo  que nos diz peremptoriamente Nunca mais. Ouviste? Nunca mais. Ponto final exato.

s u a v e m e n t e

Não faz barulho ao entrar Roça ligeirinho pé descalço Saltinhos saltinhos muitos e tudo Asas pequeninas pio dourado Nem se dá conta como nos sussurra  apenas como música que é  de seda  triunfando entre os dedos Não se sabe se azul celeste marfim verde sereno ou triunfo.

quais detentores de um poder - o de uma faca de múltiplas lâminas

A tábua pronta, a faca afiada, a cebola tão nua, descascada (nem sabes o que te espera...) está o avental atento (nem consciência tem dos estilhaços por vir) a toalha ainda descansa dobrada e a faca afiada, mais uns olhos.  E os olhos? - esses ainda não deram por nada...  sempre a mesma cena que te acorda para a espera do inesperado quais detentores de um poder - o de uma faca de múltiplas lâminas.  A cebola ao centro golpeada solta-se em espirro silencioso (nem sabes o que te desespera)  tem a palavra pronta:  - É aqui ou aí que te dói? como choras tu, afinal, se, afinal, sou eu a golpeada?  

Enquanto não houver paz, não te deixes em paz.

A natureza estrebucha por todos os lados. Exige aquilo que lhe pertence por direito e que lhe é negado. Demonstra por A mais B que não está em paz e manifesta-se de qualquer forma. Num ribombar angustiante, em ondas de exagero, cuspindo plástico, treme a terra e desfaz, faz surgir calor no frio e frio no calor. Nós. Fazemos de conta. E por muito que se renove a imagem do cardápio, andam as ementas tortas. Não sabe a nada o pêssego, está sempre podre a laranja, não há sequer tomate que saiba a tomate nem a hortaliça é tenra. O que nos vale é o abacate. Nós fazemos de conta que gostamos. Paga- -se gourmet e nem se bufa. Continuamos pretos e brancos, magros e gordos, lindos e feios, ricos e pobres. E somos iguais. Cada um, safando-se como pode. Um aperta, outro afrouxa. Um tem sorte, outro azar. Vence sempre o mais forte ou quem o aparenta. E ninguém ainda descobriu se a causa de tudo isto é mau olhado, castigo dos deuses, a implacável lei do retorno ou é tudo uma questão de incompatibili

a beleza é coisa tardia

é tal e qual como te dizia e nem poder posso  contar-te como é bom este sabor a amoras doces colhidas à beira da estrada um ror de roseiras bravas tempero terno desta idade de suaves matizes que me faz recordar-te como gostava de aparecer agora e dizer-te baixinho a música que compõe os meus dias

É ouro sobre azul

É um e outro que se juntam É um que surge e outro que pode mágico rigor de quem se quer bem uma palavra, um gesto minutinhos preciosos, passo a passo algo que se constrói aos pouquinhos e vai crescendo e aparece

Quando acontece a seco e nem lava - pior ainda

O naufrágio nem sempre é coisa de mares Quando acontece a seco e nem lava pior ainda nem sequer um último destroço a que te agarrares

esta invasora. uma devassa

É a luz a atravessar tudo esta invasora! Uma devassa! que me tem desafiado estes anos por inteiro uma força que quer que eu faça e me misture. É a luz a atravessar-me toda.

É uma inquietação desgraçada

 É um faz de propósito para me fazer feliz. É um não estar ao serviço e servir. É a pitada de nada que é tudo. É um momento Um. É um formigueiro que se estende de mim para ti. É um não medo. É um estar de olhos abertos e brilhantes. É um correr para buscar. É um chorar e sorrir  que faz parte do dançar. É uma exaltação. É uma coisa de pulmão. É um querer tanto tanto. É um estímulo para continuar. É um ar fresco. É um mistério que se vai desvendando. É uma sempre qualquer coisa que está para acontecer. É uma inquietação desgraçada. É esta a poesia da vida!

Só porque me delicio por teres chegado

Faz de conta que vens À hora dos mágicos cansaços! Faz de conta que (ainda) vens a tempo de me encontrares A salvo! Faz de conta que ficas de qualquer jeito, só porque sim E que te encanto! E eu farei de conta que vou Só porque me delicio por teres chegado.

Que frenesim te impele para algo?

A lembrança daquele frenesim miudinho que cresce dentro da gente e que nos impele, com uma vontade sincera e inexplicavelmente importante... para algo. Como quando éramos crianças e a simples ideia de que poderíamos correr por ali fora se transformava imediatamente no ato imediato de correr para a porta... e correr. Era a alegria do agir! Ou a simples ideia de que, no final do dia, seríamos presenteados com o melhor lanche do mundo- o da nossa mãe. Ou iríamos andar de bicicleta com o nosso irmão ou vizinho ou primo. Era a alegria do estar! E depois vamos crescendo. Temos muitos mais recursos, encontramos muitas pessoas, conhecemos tantos lugares bonitos e, no entanto, somos tantos a viver com tristeza e apagados. Não reconhecemos a saúde, a paz, o amor que nos rodeia. O que continuamos a fazer em prol da alegria do simples fazer? Com quem gostamos genuinamente de estar? Que frenesim te impele para algo?

mantém-se o ciclo

continua a mesma dança nas árvores em roda mantém-se o ciclo que tudo renova

e tudo nele brilha

Ai, Alcides, estás velho e sábio Ai, ai, sonhas, mas avanças Agora sabes que é de ouro a tua carcaça Levou tempo, mas valeu a pena Tens o céu por dádiva certa Não há mais ilusão que te atraia Podem vir mármores, espelhos ou prantos Ai, Alcides, estás velho, mas atento Crês na tua, não na deles, confiança Tens, agora, o dia, e não a lua, por encanto. (fotografia de Sophie Etchart)

e depois há o teu olhar

Enquanto aguardo por ti penso nos minutinhos últimos desta espera Obstinada e doce tarefa De quem se gosta e já não quer A despedida. (versos de Adélia Carvalho, no café da manhã)