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silêncio concertado

É andar de mãos dadas sem dizer nada Respirando apenas e centrando a atenção naquele par de mãos  que se acharam e acharão  entrelaçadas 
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não há só gaivotas em terra

um reconhecimento simples, sentido. pessoas maravilhosas que tive oportunidade de conhecer no âmbito de um curso de poesia/ técnica vocal (que ainda não terminou… estamos apenas em pequena pausa). foi um mero acaso nos termos juntado. foi talvez a força da palavra que nos uniu. muitas horas juntos a desbravar textos, a explorar as potencialidades das nossas vozes. e tanto que descobrimos. nem fazíamos ideia de quanto potencial guardávamos. quantas maravilhas ainda tínhamos para explorar. este momento mágico veio na hora e na idade certa. tenho sentido imenso prazer em dar a conhecer a minha voz em várias situações. cada vez mais descontraída. cada vez mais segura. cada vez mais feliz. ganhei amigos bons. e quando um Homem se põe a pensar chega a uma conclusão. há uma idade na vida em que todos parecem desaparecer. parece ninguém ter tempo nem paciência para estar. parece que anda tudo ensimesmado e vazio. e depois há uns poucos que vão aparecendo devagarinho, mostrando-nos que não há s...

Queda

Subiu como quem sobe para cuidar com um regador na mão - o dia a brilhar. No topo do prédio, um jardim suspenso, um céu de cimento, um silêncio imenso. Entre vasos e folhas, não viu o sinal A curva do acaso, o gesto fatal. Pisou – sem saber – numa casca traidora O chão fugiu-lhe e a vida. Caiu. Caiu como caem os segredos no escuro Como caem as certezas no abismo mais duro. O vento a gritar o nome que já foi… Mas não! No meio do nada como se uma parede surgisse Como se o próprio destino intercedesse e ouvisse Ali, um brilho, memórias sem som: a infância, os risos, o tempo que é bom. Marcado por um contador Mostrou-lhe a vida: o amor e a dor: o primeiro choro, os passos, os erros, os olhos da mãe, os gestos sinceros. Compreendeu! Não era só um fim. Era o espelho da estrada. O instante em que a alma é pesada! Sem luta. Sem raiva. Nem um grito. Sorria no vazio. Era bonito. Aceitou. ( mais um trabalho de escrita criativa a partir de um pequeno filme da autoria de Iara Oliveira, 9ºC)

um mar de roupa

Que tal começar por uma personagem? Quero que se chame Renato. E quero que ajude o seu pai Alfredo a arrumar uma mala. Mas não será uma mala qualquer. Quero uma mala onde as coisas entrem sozinhas e se dobrem por si só e onde os cintos se mexam como serpentes. Não quero que a mala seja de viagem, das paradisíacas. Quero algo mais triste e sério, do género partida em trabalho. Quero uma família que não seja normal. Quero algo mais criativo e diferente. Quero estranhos que morem numa cidade pequena com um carro pequeno e velho. Mas quero uma mala. Uma mala que simbolize um momento. De pai para filho. Quero uma despedida. Esta mala abrir-se-á em ferida. Uma ferida em estrada. Quero também um mar de roupa que simbolize a confusão. Quero um pai que falecerá e deixará a família triste. Um pai que só pensou em trabalho para dar uma vida melhor ao Renato. (texto de Neuza Ferreira, aluna de 9º ano, desafio de escrita criativa lançado a partir do pequeno vídeo que acompanha este texto)

e nem por isso deu descanso

o domingo é, em última instância, uma desgraça principalmente depois das seis da tarde porque há um silêncio por todo o lado e nem por isso deu descanso parece que soa a nada ou a tudo o que não se quis ou que não se aproveitou ou que não se fez o domingo é, por excelência, uma indefinição tem o peso do dever à espreita, mas chamam-lhe dia de folga parece o fim de uma primeira temporada e pode muito bem ser só isto

ouve como range

ouve como range a porta           que não se fecha exibe o trinco aldrabado           que ninguém mais ousa almeja ser reserva de chegada     e murmura assim entre dentes        como quem quer e não quer o que é ser dentro ou ser fora                já nem sabe

E eu sei disto. Sei muito bem do que falo.

Quero falar-te no abraço de mãe.  Dura muito. Uma vida inteira. E vai-se moldando  em função do tamanho de um filho.  E o filho cresce e cresce e a mãe vai esticando os braços. Muito, muito.  Exageradamente abertos, sempre prontos a acolher.  O abraço de mãe não esgota, não se esgota. E eu sei disto. Sei muito bem do que falo.

primeiro, respira, depois, repara

Primeiro, respira. Nem que seja com a parte do pulmão que ainda acredita. Depois, repara: - o mundo não acaba. Nunca acaba. E a vida, essa sem-vergonha que se reinventa ensina-te que amarás de novo. Talvez de forma mais tímida Ou com o exagero dos que já perderam tudo. (Andrea Fernandes)

Não concluas que é sempre fria a água do balde.

Não suponhas que as formas nascem do olhar. Não questiones a razão da tua cor. Não te impressiones com muros iluminados. Não te esqueças que não há gritos com respostas. Não queiras quem caminhe ao teu lado indiferente. E nunca tentes emendar o que não tem conserto. Nunca leias um livro único uma única vez. Não tentes aprender equações repetindo. Nunca te arrependas do relâmpago duns lábios procurando outros lábios. E nunca pretendas decifrar mistérios. Não batas a nenhuma porta para matar a tua sede. Nem mates os anjos com beijos revoltados. Não duvides da inevitável solidão do tempo. Não leves tão a sério o desejo. E nunca esperes por uma palavra – di-la! Não concluas que é sempre fria a água do balde.