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Queda

Subiu como quem sobe para cuidar

com um regador na mão - o dia a brilhar.

No topo do prédio, um jardim suspenso,

um céu de cimento, um silêncio imenso.

Entre vasos e folhas, não viu o sinal

A curva do acaso, o gesto fatal.

Pisou – sem saber – numa casca traidora

O chão fugiu-lhe e a vida.

Caiu.

Caiu como caem os segredos no escuro

Como caem as certezas no abismo mais duro.

O vento a gritar o nome que já foi…

Mas não!

No meio do nada como se uma parede surgisse

Como se o próprio destino intercedesse e ouvisse

Ali, um brilho, memórias sem som:

a infância, os risos, o tempo que é bom.

Marcado por um contador

Mostrou-lhe a vida: o amor e a dor:

o primeiro choro, os passos, os erros,

os olhos da mãe, os gestos sinceros.

Compreendeu!

Não era só um fim. Era o espelho da estrada.

O instante em que a alma é pesada!

Sem luta. Sem raiva. Nem um grito.

Sorria no vazio. Era bonito.

Aceitou.


( mais um trabalho de escrita criativa a partir de um pequeno filme da autoria de Iara Oliveira, 9ºC)



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