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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2025

bom

e bebe-a se preciso  à vontade que persiste à alegria que existe às pessoas mais belas       retumbantes! capazes de me provar que estes meus sentimentos são bons porque me dizem que sim em vez de não!

que mais que desgraça é virtude

talvez vos console saber que estou só que nem uma haste seca no verão folha à solta na calçada inebriada pela cor um ping único em chapa gasta sorriso pouco breve apagado nestes tempos em que ficamos quase todos sós uns dos outros e até de nós talvez seja atitude honesta admitir-vos esta condição de mim como um só que se acostumou a tanta solitude que mais que desgraça é virtude (texto construído para representação, 2025)

Como?

Como dizer o cheiro da alfazema da urze dos beijos ou dos corpos Ou disso tudo junto? Só estando lá. (Manuel Resende)

manhã

ouve como soa vem ligeira e doce passa e deixa leve rasto  de paz

Portanto, pega na sacola e gira.

Em qualquer casa há uma cadeira. Ou um sofá. Perigosíssimo.   Sentar durante muito tempo cria cova. E quanto mais tempo se lhe dá assento, mais o rabo arredonda a cova e, um dia, buraco.  É preciso fazer da ira ou da impaciência (ou tão só do deambular e instantânea vontade do ir) o mote para não estar quieto. Os dadaístas defendiam um único momento na cadeira «significa pôr a vida em perigo» (li algures). Há que andar. Nem que seja em círculos à volta da cadeira. E a música é um bom aliado que dá que fazer à perna e ao braço. Faz reagir. E quanto mais alegre a tónica, mais se abana o capacete. Portanto, pega na sacola e gira.

todas as outras me assolam

Há uma palavra que nos guarda Carinho. Assim seja. Assim seja. Façamos por a resguardar. É a única que quero. Todas as outras me assolam.

Nada do que se espera transforma o que somos se não for isso

Nunca são as coisas mais simples que aparecem quando as esperamos. O que é mais simples, como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se encontra no curso previsível da vida. Porém, se nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos nos empurrou para fora do caminho habitual, então as coisas são outras. Nada do que se espera transforma o que somos se não for isso: um desvio no olhar; ou a mão que se demora no teu ombro, forçando uma aproximação dos lábios. Nuno Júdice

o corpo o rosto que emprestaste mais a voz que lhe deste

quando desce o pano, ficas tu apenas apagam-se as luzes, as cadeiras vazias restolho a teus pés,  o silêncio instalado desce o nervoso controlado às pernas tremem pelo entusiasmo depositado o corpo, o rosto que emprestaste mais a voz que lhe deste  ao poema és tu apenas  e a ceifa e mais a sensação da alegria que teima

A viagem está começada e nós na estrada

 Será que sabemos para onde vamos? (é que não sabemos exatamente de onde vimos…) (e percebemos tudo, mas apenas pela metade…) A viagem está começada e nós por dentro. Será que podemos desvendar o que sabemos? (uma vez que não se pode dizer tudo o que se quer…) Será que sabemos o que queremos? (uma vez que é tão certo o futuro…) (e não temos muito tempo para o entender…) A viagem está começada e nós por dentro.  Já vamos mais do que a meio e já nos sentimos no Paraíso. Será que o tempo está a nosso favor? (aqui vamos nós para sítio nenhum…) A viagem está começada e nós na estrada temos o mundo cá dentro, junta-te a nós e canta. Está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem.

síncope

perda temporária do tónus postural adivinha-se restabelecimento em breve

Os olhos nem olham, não veem, apenas adivinham

Às seis, um ensaio de balanço e levanta-se a custo das minhas mãos  agarradas nas suas. Soergue-se em vitória como quem acaba de escalar o Everest. Falhou em quase tudo e, no entanto,  ri-se de espinha curvada e com todos os dentes em falha. Tão encolhida na tão larga camisola  que as carnes não enchem. Os olhos nem olham, não veem,  apenas adivinham a transição para outro estado onde o corpo não interessa para nada. ( foto com excerto do quadro de Victor Hernandez Castillo)