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Mensagens

no reino

quase nefelibata: não vivo, aprecio apenas

contamos os pingos que escorriam da calha

ontem, prolongamo-nos demoramo-nos à chuva contamos os pingos que escorriam da calha foram exatamente 1342 e nós dois sentados e, sem contar,  a braços, enrolados d e m o r a n d o  na chuva prolongados

sol de outono

O sol de outono não queima, mas recorda labaredas.

eram os olhos das árvores

Quem sabe se alguém quis que os fios do destino se cruzassem neste dia. Este fruto quase insignificante, mas com tanto significado para mim surgiu no meu caminho. Ali estava ele num qualquer passeio acabadinho de cair aos meus pés. E não foi que esta moçoila ficou toda nostálgica!?  Foi no quintal da minha avó Ana que se deu a descoberta. Lá havia uma avelaneira sem saber que o era. Na minha cabeça de criança, aqueles nódulos minúsculos que nasciam por entre folhinhas pequeninas eram os olhos das árvores. Uma dessas descobertas foi perceber que afinal aquela árvore dava fruto. E como custou perceber que aquele pequeno olho era afinal um pequeno fruto! E bom! Ainda hoje adoro avelãs.

esta beterraba bem podia

qual cor esta no balcão da minha cozinha qual vibrante cor a pulsar na minha mão porte altivo, porte terra esta beterraba bem podia ter chegado à categoria de obra d’arte disfarçada densa, carne rija, raíz talhada à minha medida força, sangue, mulher

o elefante na sala

diz querer passar despercebido diz estar farto de atenção diz sentir-se agradecido diz não gostar de exposição e não pretende mais levantar ondas não. nem sequer dar o dito por não dito está convicto. o melhor é o disfarce mas deixa a descoberto  os olhos (que é coisa óbvia) a tromba (que é coisa feia) ( Elefante na sala , Maurízio Catellan, Serralves, até janeiro 2026)

mas é – um poema de amor. há de ser sempre um poema de amor

Ainda bem que não morri de todas as vezes que quis morrer – que não saltei da ponte, nem enchi os pulsos de sangue nem me deitei à linha, lá longe. Ainda bem que não atei a corda à viga do tecto, nem comprei na farmácia, com receita fingida, uma dose de sono eterno.Ainda bem que tive medo: das facas, das alturas, mas sobretudo de não morrer completamente e ficar para aí – ainda mais perdida do que antes – a olhar sem ver.Ainda bem que o tecto foi sempre demasiado alto  e eu ridiculamente pequena para a morte. Se tivesse morrido de uma dessas vezes, não ouviria agora a tua voz a chamar-me, enquanto escrevo este poema, que pode não parecer – mas é – um poema de amor. Maria do Rosário Pedreira

um outono que surge precipitado

E realmente a praia está vazia nem um único assento indisponível... O mar a descoberto, tão escancarado! Um silêncio que insiste em demasia nada de aplausos ou apupos apenas este corpo de dias experimentado. Nada de palavras sem sentido ou sons ensaiados apenas eu e a verdade nesta hora de praia vazia. Apenas uns gestos imediatos e tão sinceros um vazio que continua a ser a minha praia num outono que surge precipitado.